
O dia seguinte aos atos do Sete de Setembro, convocados pelo presidente Jair Bolsonaro e ocorridos em diversas cidades brasileiras na última terça-feira (7), foi de manifestações em Brasília, bloqueios liderados por caminhoneiros e pronunciamento de líderes de instituições como Supremo Tribunal Federal (STF) e Câmara dos Deputados. Houve, ainda, reflexos no mercado financeiro e mobilização partidária discutindo um eventual impeachment do chefe do Executivo.
As reações desta quarta-feira ocorrem um dia depois de manifestantes irem às ruas com pedidos antidemocráticos, como o fechamento do STF, e insuflados por ameaças de rompimento institucional feitas pelo próprio Bolsonaro.
Ao discursar em Brasília e em São Paulo, o presidente atacou em especial o ministro Alexandre de Moraes, que comanda o inquérito dos atos antidemocráticos e das fake news. Em referência ao presidente da Corte, Luiz Fux, Bolsonaro afirmou que “ou o chefe desse poder enquadra o seu ou esse poder pode sofrer aquilo que nós não queremos”. Bolsonaro também prometeu descumprir todas as ordens vindas de Moraes.
Confira os principais acontecimentos do dia posterior aos atos de Sete de Setembro
Resposta do STF
O presidente do STF, Luiz Fux, deu início à sessão plenária desta quarta-feira com um discurso em resposta às ameaças feitas pelo presidente Jair Bolsonaro à Corte e aos ministros nos atos de Sete de Setembro. Em sua fala, Fux ressaltou que desprezar decisões judiciais implica crime de responsabilidade.
— O STF não tolerará ameaças à autoridade de suas decisões. Se o desprezo às decisões judiciais ocorre por iniciativa do chefe de qualquer dos poderes, além de representar atentado à democracia, configura crime de responsabilidade, a ser analisado pelo Congresso — ressaltou.
O ministro destacou ainda que o Supremo esteve atento às formas e aos conteúdos dos atos, que veicularam críticas à Corte, mas repudiou os discursos de ódio e práticas antidemocráticas que vêm sendo adotadas por parte da população, incitadas e "muitas vezes vocalizadas" pelo presidente da República — práticas ilícitas e intoleráveis, como destacou.
Pronunciamento na Câmara
Sem citar Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fez um pronunciamento na tarde desta quarta-feira em que criticou "radicalismo e excessos" e disse que não pode mais "admitir questionamentos" sobre a questão do voto impresso.
— Conversarei com todos e todos os poderes. É hora de dar um basta a essa escalada, em um infinito loop negativo. Bravatas em redes sociais, vídeos e um eterno palanque deixaram de ser um elemento virtual e passaram a impactar o dia a dia do Brasil de verdade — disse o presidente da Câmara.
Ele também criticou a insistência na defesa do voto impresso em 2022, proposta já rejeitada pela Câmara dos Deputados no mês passado.
— Não posso admitir questionamentos sobre decisões tomadas e superadas, como o voto impresso. Uma vez decidido, é página virada — ressaltou.
Caminhoneiros
Grupos de caminhoneiros realizaram manifestações em diferentes pontos do país nesta quarta-feira. Em alguns casos, as concentrações seguem desde os atos de terça (7), e, em outros, foram iniciadas nesta manhã.
No Rio Grande do Sul, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) confirmou que existem "pontos com concentração" de veículos e manifestantes, mas não informa quantos são e nem os locais. Segundo a PRF, os grupos orientam que caminhoneiros parem os veículos, mas não estariam obrigando a parada.
GZH apurou alguns pontos de manifestação, em municípios como Cruz Alta, Nova Santa Rita, Pontão, Pelotas, Montenegro, Passo fundo e Viamão.
Manifestações em Brasília
Em Brasília, mais de cem caminhões ocupavam a Esplanada dos Ministérios nesta tarde, em meio a ameaças de tentar violar o bloqueio da Polícia Militar para ir até o prédio do STF. O clima no local era de hostilidade a jornalistas e a policiais militares que faziam uma barreira impedindo o acesso ao Supremo e ao Congresso. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o governo do Distrito Federal tentava contato com movimentos bolsonaristas cadastrados.
Também participaram dos atos manifestantes a pé, usando camisas amarelas e carregando faixas que defendem ações antidemocráticas, como intervenção militar, fechamento do Congresso e destituição de ministros do Supremo. A segurança no local foi reforçada.
Mobilização de partidos
Os ataques de Bolsonaro nas manifestações de Sete de Setembro mobilizaram PSDB, PSD, Solidariedade e MDB a discutirem um eventual apoio ao impeachment do chefe do Executivo. Os tucanos realizaram uma reunião nesta quarta-feira (8) e decidiram fazer oposição ao governo Bolsonaro e dar início à discussão sobre a prática de crimes de responsabilidade pelo presidente.