O presidente Jair Bolsonaro chamou de "crime" o decreto adotado pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que estabelece o chamado "passaporte covid" no Estado. De acordo com a medida, as pessoas precisarão comprovar que tomaram pelo menos uma dose da vacina para frequentar eventos com mais de 500 pessoas.
– Liberdade acima de tudo. Quererem criar um passaporte da covid, isso é um crime. Querer impor regras por decretos estaduais ou municipais, violando o artigo 5º da Constituição, isso é um crime – disse nesta quinta-feira (2) em cerimônia de assinatura de autorizações ferroviárias no Palácio do Planalto.
Contrariando o entendimento de especialistas, o presidente também sugeriu que estaria imune ao coronavírus por já ter contraído a doença. Bolsonaro justificou a ideia no fato de ter feito um exame IGG, que mede a taxa de anticorpos no sangue. Cientistas, porém, afirmam que pessoas que já tiveram covid-19 apresentam IGG positivo, mas que isso não garante a imunidade contra a doença, já que o teste não consegue medir se os anticorpos estão funcionais nem a capacidade de neutralizar a entrada do vírus nas células. De acordo com os especialistas, a melhor forma de se proteger da doença é se vacinando - o que Bolsonaro, aos 66 anos, se recusa a fazer.
Ele direcionou sua fala ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, sobre quem tem exercido pressão publicamente para formular parecer técnico em favor do fim da obrigatoriedade do uso de máscaras, apesar de evidências científicas indicarem a eficácia do item de segurança sanitária no controle do número de casos.
– Deixo claro, Queiroga, te mostrei meu IGG hoje. 991. Não vou entrar em detalhe. Obrigado, Osmar Terra.
O deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), um dos parlamentares mais próximos do presidente, defendeu em diversas ocasiões teses contrárias ao consenso científico sobre o combate à pandemia do novo coronavírus.
Em diversas manifestações, apoiou a reabertura de estabelecimentos onde ocorrem aglomerações sob a justificativa de que a população poderia adquirir a chamada "imunidade de rebanho", apesar de órgãos de saúde ressaltarem, já naquela época, a vacinação em massa como única forma possível de superar a crise.
O presidente assumiu que lhe falta conhecimento em assuntos técnicos ao dizer que faz perguntas óbvias aos seus ministros.
– Sei das minhas limitações. Pergunto coisas óbvias para ministros. Eles ficam olhando espantados para mim. Eu prefiro que me corrija aqui do que cometer uma gafe em público.