O burburinho já é maior do que a pacata cidade de Cerro Grande do Sul, de 12 mil habitantes, na região centro-sul do Estado. Quem tem dúvidas, sussurra com receio de ser ouvido. Mas nas rodas de conversa entre os moradores, o assunto é o mesmo: o fato de o prefeito Gilmar Alba (PSL) ter sido flagrado transportando R$ 505 mil em caixas de papelão no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. O caso foi assunto até na CPI da Covid, nesta quarta-feira, quando senadores disseram que a quantia seria utilizada para financiar manifestações contra a democracia no dia 7 de setembro.
A reportagem de GZH tentou esclarecer essa pergunta — fomos ao município de Cerro Grande do Sul, distante 117 km de Porto Alegre. A cidade é pequena, tanto que os acessos não são asfaltados. Ao chegar ao município, por volta das 8h30min, a reportagem encontrou pequenos grupos que discutiam o tema em uma das únicas vias pavimentadas.
Próximo a um ponto de táxi, um morador dizia:
— Ele tem que explicar, né? Alguma coisa tem.
Ao ser perguntado sobre o nome e sobrenome, ele preferiu não falar. Já um taxista da região disse que já trabalhou com Alba.
— Eu acho que ele estava fazendo algum negócio. Ele gosta de pechinchar, e dinheiro ele tem. Ele não ia aparecer num aeroporto com dinheiro ilícito — destacou Waldemar Laguna.
Já em outro ponto da cidade, a conversa não tinha o tom tão compreensivo. O vendedor João Batista da Conceição, 35 anos, disse que havia dúvidas sobre o valor.
— Há bastante comentário. Ele se esforça bastante para o município, e sabemos que ele tem dinheiro. Achamos que é dele mesmo. Mas todo mundo se pergunta, né?! A gente tem um pouco de dúvida e espera que o prefeito responda — disse.
Como o município é pequeno, em poucos minutos a reportagem já estava em frente à prefeitura da cidade. O prédio tem apenas um andar. A rua do Paço Municipal não é asfaltada, mas a condição da via estava boa, pois o dia estava ensolarado. Após mais de uma hora de espera em frente ao local e da expectativa para conversar com o prefeito da cidade, nada feito. Alba recusou-se a esclarecer o fato.
Na prefeitura, o secretário da Fazenda, Saúde e Educação da cidade, Júlio César Doze, conversou com a reportagem e explicou que o prefeito é um homem que possui bens — e que por isso é comum circular com dinheiro vivo.
— É algo muito tranquilo. Ele é um homem de posses, e o dinheiro é dele. O prefeito tem o negócio dele. Esse dinheiro não é público, posso afirmar isso — frisou.
Por volta das 11h30min, em uma última investida, a equipe de reportagem, composta por Eduardo Paganella, Jeferson Bottega e Paulo Lambari, ligou para o prefeito Gilmar Alba. De forma sucinta, ele destacou que não iria falar.
— Eu vou atender na Câmara de Vereadores no dia 14. (Mas a gente está aqui na cidade — disse o repórter). Eu não tenho mais nada a declarar. Você ouviu? Um abraço e até o dia 14 — completou o prefeito.
A reportagem ainda tentou ir ao local onde estava o prefeito, mas foi orientada por moradores a evitar a região, por se tratar de uma área rural, de difícil acesso. Logo após, deixamos a cidade, aguardando o resultado da investigação da Polícia Federal e o acompanhamento das demais autoridades sobre a situação.
Homem de posses
Ainda que seja grande a quantia apreendida com o prefeito, os moradores da cidade não tem dúvidas de que Gilmar Alba tenha dinheiro. Candidato pelo PSL nas eleições de 2020, ele declarou bens avaliados em R$ 8,6 milhões ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Entre as posses apresentadas ao poder judiciário, estão 19 frações e porções de terrenos na própria cidade de Cerro Grande do Sul e em municípios como Viamão, dois caminhões, um trator e R$ 3 milhões em espécie. Também há valores declarados relacionados à empresa Tabacos D'Italia, ligada à família Alba.