A CPI da Covid ouviu nesta quarta-feira (11) Jailton Batista, diretor-executivo da farmacêutica Vitamedic, uma das fabricantes do medicamento ivermectina do Brasil.
A Vitamedic foi alvo de um requerimento de informações aprovado em junho pela comissão. De acordo com relatórios enviados à CPI, apenas as vendas da ivermectina saltaram de 24,6 milhões de comprimidos em 2019 para 297,5 milhões em 2020 — um crescimento superior a 1.105%. O preço médio da caixa com 500 comprimidos subiu de R$ 73,87 para R$ 240,90 — um incremento de 226%.
O remédio, utilizado para combater verminoses, não tem eficácia comprovada para a doença e teve o consumo incentivado pelo presidente Jair Bolsonaro. A CPI decidiu propor o indiciamento do presidente por charlatanismo.
Abaixo, confira os principais pontos do depoimento:
Fabricante patrocinou anúncio de tratamento precoce
Em sua fala, Batista afirmou que a Vitamedic patrocinou a publicação de um manifesto a favor do tratamento precoce contra a covid-19.
De acordo com o diretor, o anúncio foi feito a pedido da Associação Médicos pela Vida, que assinou manifesto contrariando evidências científicas. A empresa gastou R$ 717 mil para patrocinar a publicação, que foi veiculada em 16 de fevereiro em veículos de comunicação.
Questionado sobre as controvérsias ética e criminal do patrocínio com um anúncio que geraria lucros para a farmacêutica, o empresário declarou que o manifesto não citava especificamente a ivermectina.
Durante seu depoimento, ele negou que houve lobby com o governo federal para impulsionar as vendas do medicamento.
Aumento do faturamento
O diretor confirmou aumento nas vendas da empresa com a ivermectina durante a pandemia de covid-19. Ele citou um acréscimo acima de 600% no faturamento da empresa com a comercialização do medicamento entre 2019 e 2020.
Batista confirmou que, no primeiro ano, antes da pandemia, as vendas totalizaram R$ 15,7 milhões. No ano seguinte, já durante a crise da covid-19, o faturamento com o produto foi de R$ 470 milhões, ou seja, 29 vezes maior do que o ano anterior.
O diretor disse que nenhum representante da farmacêutica esteve em reuniões com o Ministério da Saúde, com o chamado "gabinete paralelo" ou outros membros do governo. Ele também relatou que não vendeu "nenhum comprimido" de ivermectina ao governo federal. Já ao Estado do Mato Grosso houve a venda de 350 mil unidades do remédio.
Pagamento a médicos
O senador Otto Alencar (PSD-BA) mostrou documentos na CPI da Covid comprovando que a Vitamedic, uma das fabricantes da ivermectina no Brasil, pagou bonificações a médicos para incentivar o tratamento precoce, na contramão das evidências científicas. Durante o depoimento do diretor da empresa, o parlamentar apresentou documentos mostrando pagamento de R$ 10 mil para médicos.
De acordo com o senador, os profissionais que receberam a bonificação promoveram o uso do medicamento como forma de prevenir a covid-19, embora não haja nenhuma comprovação científica nesse sentido. Em resposta, o diretor da empresa negou relação entre o pagamento e a receita dos medicamentos.
— O pagamento não foi para estimular, foi só para levantar informações — disse Batista.