O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello divulgou, na noite desta sexta-feira (16), uma nota negando que tenha estado à frente de negociações de aquisição de vacinas com empresários. O comunicado foi enviado ao jornal Folha de S.Paulo como "notificação extrajudicial".
"Enquanto estive como ministro da Saúde, em momento algum negociei aquisição de vacinas com empresários, fato que já foi reiteradamente informado na CPI da Pandemia e em outras instâncias judicantes", escreveu o general da ativa.
Na sexta-feira (16), uma reportagem da Folha afirmou que uma reunião entre Pazuello e um grupo de intermediadores ocorreu em 11 de março, quando o militar ainda chefiava a pasta de Saúde. No encontro, Pazuello teria prometido comprar 30 milhões de doses da vacina chinesa CoronaVac, que foram oferecidas ao governo, por quase o triplo do valor negociado com o Instituto Butantan. O desfecho do encontro, gravado em vídeo, mostra Pazuello ao lado de quatro pessoas que representariam a World Brands, uma empresa de Santa Catarina que lida com comércio exterior.
— Já saímos daqui hoje com o memorando de entendimento assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, no mais curto prazo, o contrato para podermos receber essas 30 milhões de doses no mais curto prazo possível para atender a nossa população — diz o então ministro na gravação.
A nota enviada por Pazuello aponta que a reunião com os representantes da World Brands ocorreu após um pedido formal endereçado ao ministério. Ele afirma ter determinado que a secretaria-executiva, à época sob comando de Elcio Franco, fizesse uma sondagem da proposta a ser ofertada.
"Ante a importância da temática, uma equipe do Ministério da Saúde os atendeu e este então ministro de Estado — que detém o papel institucional de representar o Ministério da Saúde — foi até a sala unicamente para cumprimentar os representantes da empresa, após o término da reunião".
Quanto à gravação, Pazuello afirmou ter sido uma sugestão da assessoria de comunicação da pasta em respeito à Constituição que, no artigo 37, traz regras para a atuação na administração pública.
"Após a gravação, os empresários se despediram e, ato contínuo, fui informado de que a proposta era completamente inidônea e não fidedigna. Imediatamente, determinei que não fosse elaborado o citado memorando de entendimentos — MoU —, assim como que não fosse divulgado o vídeo realizado", escreveu.
Ainda conforme a Folha, três pessoas que acompanharam a reunião disseram que o vídeo foi gravado antes de Pazuello conhecer o preço da vacina. Um ex-auxiliar do então ministro afirmou que a ideia inicial era propagandear o avanço das negociações.
O ex-ministro também enviou ao jornal a correspondência da World Brands, que teria sido recebida pela pasta um dia antes do encontro. A empresa haveria apontado a capacidade de ofertar ao Ministério da Saúde 30 milhões de doses da CoronaVac, as quais poderiam ser entregues em 75 dias contados da assinatura do contrato. De acordo com o documento, assinado por Sérgio R. M. Gonçalves, o preço pretendido era de US$ 8, com a condição de que metade do valor total fosse pago no ato da encomenda e o restante nas datas de embarque.
Em 11 de março, o governo federal já havia anunciado há dois meses a aquisição de 100 milhões de dosses da CoronaVac por meio do Instituto Butantan a US$ 10 a dose. Além do preço diferente, a reunião contradiz o que Pazuello afirmou em depoimento à CPI da Covid. Na comissão, ao ser questionado sobre as negociações com a Pfizer, o ex-titular da Saúde declarou que "quem negocia com a empresa é o nível administrativo, não o ministro".