Dados da agenda do Ministério da Saúde, nos quais o jornal O Globo teve acesso, mostram que o governo federal teria priorizado a compra da vacina indiana Covaxin, enquanto as tratativas com a Pfizer, única que tem registro definitivo no Brasil, foram proteladas.
Segundo informações obtidas via Lei de Acesso à Informação e pesquisa nos registros públicos da pasta, a Pfizer se reuniu com a pasta em 10 ocasiões desde setembro de 2020 e precisou recorrer a muitos integrantes do governo para tentar vender seu imunizante ao governo brasileiro. As negociações foram retomadas neste ano, e o contratado foi firmado no mês de março — sete meses após a empresa procurar, pela primeira vez, o governo federal.
Já o laboratório inidiano Bharat Biotech, representada no Brasil pela importadora paulista Precisa Medicamentos, fez seis reuniões e liquidou a fatura em menos de quatro meses. O governo fechou um acordo de R$ 1,6 bilhão para a compra da vacina indiana Covaxin, que não teve uso emergencial aprovado pela Anvisa.
No contrato assinado em 25 de fevereiro deste ano, o governo se comprometeu a pagar R$ 80 por dose da Covaxin — R$ 24 a mais do que o preço da dose oferecido pela Pfizer na cotação do dólar à época da assinatura.
No final do mês de março, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) negou a certificação de boas práticas de fabricação ao desenvolvedor da vacina indiana, o laboratório Bharat Biotech, por conta de riscos sanitários e ausência de controle de qualidade após visitar suas instalações. Por outro lado, o imunizante da Pfizer recebeu o registro definitivo da Anvisa poucos dias antes.
As 20 milhões de doses da vacina indiana reservadas pelo governo devem chegar após a aprovação da Anvisa. Enquanto isso, a Pfizer já entregou o primeiro lote de 1 milhão de doses de seu imunizante no mês de abril. O restante será entregue até o fim do ano.
Um novo acordo fechado pelo governo com a empresa americana garante mais 100 milhões de doses que devem chegar ao Brasil a partir de outubro.