Em fala inicial à CPI da Covid, na manhã desta terça-feira (18), o ex-chanceler Ernesto Araújo procurou fazer uma defesa de sua atuação enquanto esteve à frente do Ministério de Relações Exteriores. Ele deixou a pasta no final de março após forte pressão do Congresso, principalmente do Senado.
Segundo Araújo, sob sua gestão, o Itamaraty atuou em conjunto com o Ministério da Saúde e outras pastas no enfrentamento à pandemia — além de contribuir com mudanças em relação a governos anteriores.
Segundo ele, foi adotada uma política comercial ambiciosa e intensa, em que o Brasil foi colocado a "um passo" de se tornar membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
— Nos dedicamos a defender o direito à vida, liberdade de crença, de opinião. Abrimos frentes (comerciais) concretas com nossos diversos parceiros. Ideologia e pragmatismo é um binômio equivocado. Meu objetivo foi contribuir para um Brasil grande e livre com economia competitiva. Sem a preservação de valores, a vida humana perde sentido e significado. Defendendo valores, o Brasil conseguiu assinar 180 atos internacionais — disse.
Sobre a pandemia, Araújo afirmou que o Itamaraty teve "sucesso" em trazer os brasileiros que estavam na China e em outras nações. Segundo ele, foi "a maior operação de repatriação humanitária do país".
Alvo de críticas, a atuação em relação à compra de vacinas contra a covid-19 também foi comentada por Araújo. De acordo com ele, "graças à qualidade de relações com a Índia", o Brasil foi o primeiro país do mundo a receber imunizantes exportados do país.
— Logo no começo da pandemia, postos do Itamaraty foram instruídos a contatar pesquisas de vacinas, atuamos em conjunto com o Ministério da Saúde — afirmou o ex-chanceler. — No final da minha gestão já tínhamos disponíveis 30 milhões doses de vacina. Também no final da minha gestão tínhamos insumos para mais 30 milhões de doses — afirmou.
Relação com a China
Ao ser questionado pelos senadores, Araújo negou que tenha feito ataques à China, o principal parceiro comercial do Brasil. Em resposta a Renan Calheiros, relator da CPI, disse que não via "hostilidade" na relação do governo brasileiro com o país asiático.
— Jamais promovi nenhum atrito com a China — afirmou.
O presidente da comissão, Omar Aziz, rebateu o ex-chanceler:
— Dizer que o senhor nunca se indispôs com a China, o senhor está faltando com a verdade. Falou em "comunavírus". Até bateu boca com o embaixador chinês — declarou.
Convocações
Antes do depoimento de Araújo, a CPI da Covid, aprovou, ainda no início dos trabalhos, a convocação do ex-secretário executivo da Saúde coronel Antônio Elcio Franco Filho, e a convocação do presidente da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), Hélio Angotti Netto.
O coronel Élcio atuou como o número dois do Ministério da Saúde na gestão do ex-ministro Eduardo Pazuello e foi exonerado do cargo em março deste ano. Já o presidente da Conitec é convocado a prestar esclarecimentos após o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, evitar se posicionar contra o uso de fármacos sem a eficácia comprovada para o tratamento da covid-19 pois, segundo ele, a Conitec ainda estava avaliando e elaborando o protocolo de tratamento contra doença.