Preso em Porto Alegre por suspeita de integrar suposta organização criminosa que agiria no governo do Estado do Rio de Janeiro, Victor Hugo Amaral Cavalcante Barroso, 33 anos, é descrito pelo Ministério Público Federal (MPF) como “pessoa central” e “operador financeiro” do esquema supostamente liderado por Everaldo Dias Pereira, o pastor Everaldo, presidente do PSC.
No documento da Procuradoria-Geral da República (PGR), em que são feitos os pedidos de prisão contra autoridades e empresários do Rio investigados pelo MPF, Barroso é apontado como responsável pela contabilidade do grupo. Outros investigados pelo envolvimento nos supostos atos de corrupção haviam sido presos na sexta-feira (28), por determinação do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que também afastou o governador Wilson Witzel (PSC) do cargo. Todos negam envolvimento em irregularidades.
Conforme informações apuradas pela reportagem, Barroso estava no Uruguai, onde teria residência, e regressou ao Brasil via Rio Grande do Sul para se apresentar às autoridades, já que havia mandado de prisão em aberto contra ele. O suposto operador tinha um voo marcado para cerca de 16h30min de domingo (30) com destino ao Rio de Janeiro e, antes de embarcar, se apresentou no posto da Polícia Federal no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre. As autoridades gaúchas fizeram contato com a coordenação das investigações, no Rio e no Distrito Federal, e a recomendação foi para que Barroso ficasse detido, ao menos temporariamente, na Capital gaúcha, no prédio da Superintendência da Polícia Federal.
A acusação diz que Barroso faria contatos com empresários e gestores públicos, indicaria organizações sociais que deveriam ser contratadas pela Secretaria Estadual da Saúde do Rio de Janeiro e discutiria percentuais de propina. Caberia a Barroso, diz o MPF, a criação de “camadas de ocultação de valores” recebidos ilicitamente por meio de movimentações financeiras complexas entre diversas pessoas jurídicas. Houve casos, ainda, em que o suposto operador teria efetuado remessas de valores ao Exterior, especialmente ao Uruguai. O dinheiro do esquema teria origem em propinas pagas por organizações sociais que conseguiam contratos possivelmente direcionados na Saúde.
Segundo a PGR, a relevância do operador no esquema poderia ser medida pelo fato de ele supostamente ficar com 15% dos valores arrecadados pela “caixinha” de propinas do núcleo da Saúde, que teria pastor Everaldo como comandante.
Entre os fatos narrados pelo MPF contra Barroso, parte significativa foi revelado por Edmar Santos, ex-secretário da Saúde do governo Witzel que se tornou delator.
“De acordo com o colaborador Edmar Santos, o operador financeiro de pastor Everaldo é Victor Hugo Amaral Cavalcante Barroso, que realiza a contabilidade paralela da organização, efetua contatos com agentes públicos e empresários, indica as empresas e organizações sociais que devem ser contratadas pela Secretaria da Saúde do Rio de Janeiro, entre outras atribuições”, diz a peça do MPF.
Ao menos parte dos fatos narrados pelo colaborador foi reforçada posteriormente por investigações das autoridades. Foi registrado que o suspeito teria aberto offshores em nome da mãe e da irmã, uma delas no Uruguai, a Tremezo S/A. O endereço de Barroso, para fins fiscais, é Montevidéu, a capital uruguaia, para onde enviaria valores.
Barroso teria ainda influência, por meio do pastor Everaldo, na Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (Cedae) e em outras ramificações do governo Witzel. Segundo a PGR, o operador seria sócio de Juarez Fialho, secretário de Estado das Cidades, em uma empresa de segurança e transporte de valores.
O MPF narra pelo menos dois casos em que Barroso teria atuado para definir as organizações sociais que vieram a se tornar, de fato, as gestoras do Hospital Estadual Getúlio Vargas e a unidade de saúde dentro do complexo de presídios Bangu.
“Na tentativa de acobertar os valores recebidos ilicitamente, Victor Barroso realiza uma série de movimentações financeiras suspeitas, tipicamente utilizadas para prática de ato de lavagem de capitais. Victor Hugo Barroso criou uma complexa organização de pessoas jurídicas, que indicam a estruturação de camadas de ocultação de valores, também típica de lavagem de dinheiro, onde as transações financeiras se misturam, dificultando a rastreabilidade”, diz o MPF, que listou uma série de CNPJs que seriam utilizados para as operações.
Conforme a apuração, Barroso teria três formatos possíveis para a distribuição de propina: entrega de cartão de crédito em nome de terceiros para que os beneficiários pagassem suas despesas, dinheiro em espécie ou custeio de viagens particulares.
Edmar Santos teria recebido como bonificação uma viagem de uma agência de turismo que pertence a um primo de Barroso. O delator diz ter recebido um cartão de crédito e valores em espécie. O ex-secretário da Saúde ainda contou aos investigadores que somente falava com Barroso pelo aplicativo de mensagens Wickr, considerado altamente seguro pela destruição de arquivos, plataforma em que o suposto operador era identificado pelas alcunhas Maio2019 e, depois, Abril2020.
Zero Hora tentou localizar sem sucesso a defesa de Barroso.