Atuação do governo federal na Amazônia, agenda ambiental, CPMF e medidas contra o coronavírus foram alguns dos temas tratados em entrevista do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta sexta-feira (17). Mourão comanda o Conselho da Amazônia, reativado em janeiro deste ano.
Avanço da pandemia
Na visão do vice-presidente, o sistema público de saúde (SUS) vem dando conta dos casos de covid-19. Mourão ressaltou ainda que medidas econômicas necessárias para mitigar a crise foram tomadas.
Conforme dados revelados na quinta-feira pelo Ministério da Saúde, o número de mortes pelo coronavírus no Brasil chegou a 1.322 nas últimas 24 horas, e o total está em 76.688.
— Desde o começo, o ministro Mandetta (demitido do Ministério da Saúde em abril deste ano) deixou claro que teríamos um ciclo relativamente longo pelas características do Brasil, de ser um país com as nossas desigualdades regionais e, mais ainda, as desigualdades sociais atreladas a isso. E o ministro Mandetta tinha dito que só teríamos a estabilidade lá por agosto. E é mais ou menos o que está acontecendo.
Método de distanciamento social
Ainda que Mourão acredite que as medidas para conter a pandemia são tomadas de forma regional, é sabido que, desde o início, muitas dessas regras têm sido questionadas por Bolsonaro. O presidente também foi criticado por ter sido visto sem máscara em manifestações públicas e em meio à aglomeração de pessoas.
Mourão minimiza essa influência e possíveis erros do governo federal:
— Não é questão que ele não errou. Se atribui ao presidente uma capacidade que ele não tem. Dele ter sido o grande influenciador para que decisões a nível de governos estaduais e prefeituras não fossem corretamente implementadas. Eu, na minha visão, não acho que o presidente tem essa capacidade de dizer "ó, todo mundo vai pra rua, todo mundo toma cloroquina". Essa doença tem causado muita confusão porque ela não tem protocolos seguros estabelecidos, os médicos vêm acertando pouco a pouco, acertando a dose de diferentes remédios que existem.
Para Mourão, as dificuldades em implementar o distanciamento social passam pelas características do povo brasileiro:
— Você pode ver que diversos governadores e prefeitos tentaram impor um lockdown em algum momento e isso não aconteceu. Existe uma questão do nosso povo, o nosso povo é gregário. O nosso povo brasileiro não aceita muito bem essas limitações no direito de ir e vir. Isso é um dado do problema que precisamos saber trabalhar com ele. É saber jogar com as peças do tabuleiro.
Desmatamento
Mourão ressaltou que a questão da sustentabilidade é um tema muito importante no século 21 e que o governo sabe de sua responsabilidade nesse tópico:
— O governo sabe das suas responsabilidades em manter funcionando plenamente a nossa legislação, o nosso código florestal, que é o mais adiantado do mundo. Nós temos mais de 60% do país com a cobertura vegetal intacta, ou seja, somos um exemplo. Mas, infelizmente, desde 2012 ocorreu um aumento do desmatamento na Amazônia. Ano passado, esse desmatamento atingiu um nível maior ainda, então, compete a nós tomarmos as medidas repressivas necessárias para impedir que isso continue a ocorrer.
Conselho da Amazônia
Reativado em janeiro deste ano, o Conselho da Amazônia é comandado por Mourão. O objetivo é coordenar as diversas ações em cada ministério voltadas para a proteção, a defesa e o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
— Na primeira reunião que nós fizemos em março, tomamos uma série de decisões para ações imediatas e uma delas (...) era exatamente nós iniciarmos um trabalho junto aos representantes das nações europeias no intuito de mostrar o compromisso do governo com a questão ambiental e desfazer alguns mitos que são colocados em relação à Amazônia. Ao mesmo tempo, estamos vivendo um momento onde as empresas e os investidores de uma maneira geral estão aderindo a um sistema de metas da sigla ISG, que é a questão ambiental, social e de governança. Aí houve aquela carta dos fundos de investimento, nós nos reunimos com ele (...) Estamos fazendo todos os trabalhos no sentido de demonstrar todo o nosso comprometimento. E deixo claro que nossa melhor resposta será com dados positivos a respeito do combate às ilegalidades. Fora isso, a gente ficaria no plano da retórica, o que não é o caso.
Imagem do Brasil
Também nesta semana, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta deu entrevista ao programa. Primeiro a deixar o cargo diante das divergências com o presidente Jair Bolsonaro em meio à pandemia do coronavírus, Mandetta voltou a criticar a política do governo federal de enfrentamento à doença.
— Não sei se é pior na questão do meio ambiente ou da saúde — disse em relação à imagem do Brasil no Exterior.
Para Mourão, o presidente tem uma noção muito clara sobre a importância da questão ambiental e da saúde:
— Ele tem plena consciência de que nós estamos fazendo tudo que está ao nosso alcance para mitigar os efeitos da pandemia. Óbvio que o Brasil é um país com essas desigualdades regionais. Um caso típico é o que está acontecendo na nossa Região Sul que, com a chegada do inverno, aumentam os casos das doenças respiratórias, uma via de acesso ao vírus. (...) Essas características do Brasil o presidente entende e sabe que as soluções têm que ser dadas regionalmente, e não de forma unificada para o país como um todo.
CPMF
Na entrevista, Mourão defendeu também a recriação de um imposto nos moldes da CPMF que seria colocado sobre transações eletrônicas. A ideia ganhou força nos últimos dias, tendo como principal entusiasta o ministro da Economia, Paulo Guedes.