Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a reclamar da imprensa, criticou o ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, além de citar realizações dos governos petistas.
GaúchaZH checou quatro declarações dadas pelo ex-presidente. Confira:
Todas as coisas que foram criadas por mim e pela Dilma que facilitaram esse tipo de operação (Lava-Jato)
Verdade. Grande parte das descobertas da Lava-Jato e das condenações judiciais que se seguiram foram obtidas graças a delações premiadas. A lei que instituiu o instrumento foi sancionada pela então presidente Dilma Rousseff em 2013. À época, o Pacote Anticorrupção, aprovado no Congresso com o apoio do governo, permitiu também os acordos de leniência, pelos quais as empresas envolvidas em desvios ressarcem o Estado, em condenações por organização criminosa. Todos esses mecanismos foram muito usados na Lava-Jato.
Ao pedir demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro reconheceu a autonomia e a independência concedidas à Polícia Federal nos governos de Dilma e Lula.
— Foi fundamental a manutenção da autonomia da PF para que fosse possível realizar esse trabalho — disse o ex-juiz.
"o Dallagnol fala uma hora e meia (...) ele termina dizendo o seguinte: 'Não me peçam provas, eu tenho convicção'. O Moro me condena e qual é a sentença? Crime indeterminado"
Não procede. Na entrevista coletiva em que anuncia a apresentação de denúncia criminal contra Lula no processo do triplex do Guarujá, Dallagnol não diz textualmente a frase tal como reclama o ex-presidente. Dallagnol afirma: "Provas são pedaços da realidade, que geram convicção sobre um determinado fato ou hipótese". Na sequência, ele diz: "A nossa convicção com base em tudo que nós expusemos é que Lula continuou tendo proeminência nesse esquema".
Outro procurador, Henrique Pozzobon, reconheceu a ausência de provas definitivas: "Não teremos aqui provas cabais de que Lula é o efetivo proprietário no papel do apartamento". Da mesma forma, Moro cita "atos de ofício indeterminados" na sentença que condenou Lula no processo do triplex, mas aponta ações que o petista teria praticado em troca de propina.
Num dos trechos, escreve: "Mesmo na perspectiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a indicação por ele dos diretores da Petrobras que se envolveram nos crimes de corrupção, como Paulo Roberto Costa e Renato de Souza Duque e a sua manutenção no cargo, mesmo ciente de seu envolvimento na arrecadação de propinas, o que é conclusão natural por ser também um dos beneficiários dos acertos de corrupção, representa a prática de atos de ofícios em infração da lei."
"O TRF-4 passou o meu processo na frente de 1,7 mil processos"
Não é bem assim. Ao marcar o julgamento da apelação de Lula no caso do triplex, o desembargador Leandro Paulsen passou na frente de outros 257 processos que estavam na fila de revisão. O levantamento é do site Justificando no sistema de processos do próprio tribunal e jamais foi contestado pelo magistrado. Os 257 eram mais antigos e muitos versavam sobre os mesmos crimes.
Paulsen também teve celeridade incomum revisando o caso: seis dias úteis. À época, a apelação de Lula foi ainda a de tramitação mais rápida da Lava-Jato. Passaram-se 42 dias desde a sentença do juiz Sergio Moro até a chegada do recurso na segunda instância. Entre a condenação de Moro e o julgamento no TRF-4, foram 196 dias corridos, caracterizando a mais rápida apelação da Lava-Jato na Corte
"A Globo só citou duas vezes o Intercept. Uma porque o Intercept citou o Faustão, que foi preparar o Moro para falar, segundo a matéria do Intercept. E outra o Roberto D’Ávila, porque o Roberto D’Ávila trabalhou com o Barretão para arrecadar dinheiro para fazer o filme Lula, o Filho do Brasil"
Não procede. Os telejornais da TV Globo citaram diversas vezes o The Intercept Brasil durante a cobertura relacionada à invasão por hacker dos celulares do ex-juiz Sergio Moro e de procuradores da Lava-Jato. Houve reportagens no Fantástico, no Jornal Nacional e nos demais programas da emissora. Levantamento feito pela Globo a pedido da emissora Al-Jazeera mostrou que, de 9 de junho a 24 de julho de 2019, foi publicada uma hora e quarenta e três minutos de reportagens sobre o assunto no Jornal Nacional e no Fantástico.