Em entrevista ao Gaúcha Atualidade desta quinta-feira (2), Carlos Alberto Decotelli, que pediu demissão antes de ser nomeado ministro da Educação, falou sobre as acusações de ter incluído informações falsas no currículo Lattes. Decotelli afirmou ainda ser "covardia" da Fundação Getulio Vargas (FGV) a afirmação de que não era professor contratado em seu quadro docente.
— Eu tenho certificado, e fiz formatura (de doutorado, na Argentina). A partir dos créditos eles disseram: quem quiser fazer defesa de tese, colocará a tese. Esse programa era uma turma especial do FGV. Pagamos do nosso bolso e fomos para Rosário. Quando terminei, eu depositei a minha proposta de tese e a comissão mandou fazer adequações na tese, o que é normal no ambiente acadêmico. Nisso, eu teria que reescrever alguma parte. Voltei ao Brasil e teria que voltar a Rosário. A primeira colocação que foi feita foi de que precisava de defesa, de conclusão, mas tinham esses créditos, então, eu não voltei, não tive dinheiro — relata.
Depois da série de acusações em relação ao doutorado não concluído, e a informação estar no currículo Lattes, Decotteli se defendeu dizendo que na Argentina basta ter as disciplinas concluídas. Mas explicou ainda porque fez a correção depois na plataforma:
— Eu corrijo todo tempo. Pede a opinião de quem é responsável pelo Lattes, o presidente do CNPq. O Lattes é uma conversa permanente.
Na última semana, a FGV publicou nota em que dizia que Decotelli "atuou apenas nos cursos de educação continuada, nos programas de formação de executivos e não como professor de qualquer das escolas da Fundação". Sobre isso, o professor diz:
— A FGV diz que eu não dei aula, e eu dei aula no dia 30. Eu vou entrar novamente hoje na plataforma Lattes e vou inserir a minha última disciplina. (...) Eu tenho todos os dados, tudo registrado há mais de 20 anos. São milhares de alunos. Agora, correções podem ser feitas sempre. A FGV mentiu. A senhora pergunta em FGV Porto Alegre, Novo Hamburgo. Pergunte a FGV, pós-graduação. Eu oriento trabalhos. Não são cursos de extensão. Pós-graduação não é curso de extensão. MBA é longa duração.
Inconsistências no currículo
Nos últimos dias, vieram à tona acusações sobre informações falsas a respeito de seus títulos acadêmicos e suspeita de plágio na dissertação de mestrado.
Em uma sequência de desmentidos, descobriu-se que Decotelli não concluiu o doutorado que informava ter obtido pela Universidade Nacional de Rosario, da Argentina: o próprio reitor da instituição, Franco Bartolacci, negou que ele tenha obtido o título.
Seu alegado pós-doutorado também mostrou-se falso. A Universidade de Wuppertal, na Alemanha, informou que o indicado a novo ministro não concluiu um pós-doutorado na instituição, ao contrário do que constava em seu currículo.
Reportagem do site UOL publicada no último sábado (27) mostrou, ainda, que Decotelli copiou pelo menos quatro trechos de outras dissertações de mestrado e textos acadêmicos na introdução de seu trabalho de mestrado, apresentado em 2008 para a FGV Rio de Janeiro, com o título "Banrisul: do PROES ao IPO com governança corporativa".
Por fim, uma nota da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgada na noite de segunda-feira (29), informou que Decotelli não foi pesquisador ou professor da instituição, mais uma vez contradizendo o que ele indicava em seu currículo.
Veja a íntegra da nota da FGV, divulgada no dia 29:
"A FGV se encontra em regime de trabalho remoto, com aulas presenciais suspensas inclusive, desde março de 2020, por força do isolamento imposto pela pandemia do Coronavírus, seguindo determinação das autoridades constituídas, federal, estadual e municipal, em razão do estado de emergência de saúde.
O Prof. Decotelli cursou mestrado na FGV, concluído em 2008. Assim, qualquer informação a respeito demandará acesso a arquivos físicos da época pelos respectivos orientadores responsáveis, o que só poderá se dar após o retorno destes a atuação presencial, eis que todos pertencentes ao chamado grupo de risco.
Quanto aos cursos de doutorado e pós-doutorado, realizados com outras instituições educacionais, cabe a estas prestar eventuais esclarecimentos e não à FGV, para quem o Prof. Decotelli atuou apenas nos cursos de educação continuada, nos programas de formação de executivos e não como professor de qualquer das escolas da Fundação.
Da mesma forma, não foi pesquisador da FGV, tampouco teve pesquisa financiada pela instituição."