SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O policial militar aposentado Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro e amigo do presidente Jair Bolsonaro, foi preso na manhã desta quinta-feira (18) em Atibaia, no interior de São Paulo, em uma operação conjunta da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo.
Queiroz é investigado por participação em suposto esquema de "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.
"Rachadinha" é quando funcionários são coagidos a devolver parte de seus salários. O filho de Bolsonaro foi deputado estadual de fevereiro de 2003 a janeiro de 2019.
Essa é uma das investigações que preocupam o presidente. Além disso há o esquema de funcionários fantasmas do gabinete de Carlos Bolsonaro na Câmara Municipal do Rio, além dos inquéritos relatados pelo Supremo Tribunal Federal sobre fake news e atos antidemocráticos.
INVESTIGAÇÕES DA PF QUE ENVOLVEM ENTORNO DE BOLSONARO
FAKE NEWS
Em março de 2019, o presidente do STF, ministro Dias Toffoli, anunciou a abertura de um inquérito para investigar a existência de fake news que atingem membros da corte.
Paralelamente, em setembro do mesmo ano, a CPMI das Fake News foi instaurada no Congresso.
Desde então, a família Bolsonaro tem se colocado contrária ao funcionamento da comissão, que investiga perfis que fazem parte do arco de apoio do presidente da República.
No final de abril, a Folha revelou que a PF identificou o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, como um dos articuladores de um esquema criminoso de fake news.
Dentro da Polícia Federal, não há dúvidas de que Bolsonaro quis exonerar o ex-diretor da PF Maurício Valeixo, homem de confiança de Sergio Moro, porque tinha ciência de que a corporação havia chegado ao seu filho.
ATOS PRÓ-GOLPE
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, autorizou a abertura de inquérito para investigar os atos do dia 19 de março.
O pedido foi feito pelo procurador-geral da República, Augusto Aras. O objetivo é apurar possível violação da Lei de Segurança Nacional por atos contra o regime da democracia brasileira.
A investigação mira empresários e deputados federais bolsonaristas suspeitos de terem organizado e financiado os eventos.
Na mira da PF também estão youtubers bolsonaristas que chamaram público para os atos. Bolsonaro, que participou dos protestos em Brasília, não será investigado, segundo interlocutores do procurador-geral.
Eles alertam, porém, que, caso sejam encontrados indícios de que o chefe do Executivo ajudou a organizá-los, ele pode vir a ser alvo.
CASO QUEIROZ
Em agosto de 2019, Bolsonaro anunciou que trocaria o então superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi, por questões de gestão e produtividade.
A corporação passava por momento delicado, após vir à tona o caso Fabrício Queiroz, policial aposentado e ex-assessor do hoje senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Assembleia do Rio.
Ele é o pivô da investigação do Ministério Público que atingiu o primogênito do presidente. Relatório federal apontou a movimentação de R$ 1,2 milhão na conta de Queiroz, de janeiro de 2016 a janeiro de 2017.
A suspeita é de que o dinheiro seja de um esquema de rachadinha quando funcionários são coagidos a devolver parte de seus salários aos deputados.
Nomeado nesta segunda-feira (4) pelo presidente Bolsonaro, o novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre de Souza, decidiu trocar a chefia da corporação no Rio
CASO MARIELLE
O nome de Bolsonaro foi colocado nas investigações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) a partir do depoimento de um porteiro do condomínio onde vivia o presidente antes de assumir o Palácio do Planalto, em janeiro de 2019.
A citação veio à tona em outubro do ano passado, quando o Jornal Nacional, da TV Globo, veiculou reportagem que fez menção ao nome do presidente na investigação do assassinato, ocorrido em março de 2018.
Segundo o Jornal Nacional revelou à época, o depoimento de um porteiro do condomínio onde Bolsonaro tem casa na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, indicaria que um dos acusados pelo assassinato teria chegado ao local e dito que iria à casa do então deputado federal. Isso teria acontecido horas antes da morte de Marielle.
O Ministério Público, porém, disse em seguida que o depoimento do porteiro não condizia com as provas técnicas obtidas e que ele pode ter mentido. Além disso, no dia da morte de Marielle, Bolsonaro estava em Brasília. Dias depois, o porteiro afirmou à Polícia Federal ter cometido um erro ao mencionar o presidente.
Já em fevereiro deste ano foi concluído um laudo do ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Éboli), da Polícia Civil do Rio, realizado em cinco HDs apreendidos no condomínio, onde moravam tanto Bolsonaro como o policial militar aposentado Ronnie Lessa, um dos acusados e preso pelo homicídio.
O laudo aponta que o porteiro que interfonou para Lessa não é o mesmo que prestou depoimento apontando o envolvimento de Bolsonaro.
FANTASMAS DE CARLOS BOLSONARO
O Ministério Público do Rio de Janeiro abriu em setembro do ano passado dois procedimentos para investigar o vereador Carlos Bolsonaro (PSC) pela suspeita do uso de funcionários fantasmas em seu gabinete e da prática de "rachadinha" quando o servidor devolve parte do salário para o parlamentar.
A informação sobre a abertura dos procedimentos foi divulgada pela revista Época e confirmada pela Folha.
Da mesma maneira que ocorre com outros casos, aliados de Bolsonaro também por vezes afirmam que a investigação está com a Polícia Federal.
GOVERNO WITZEL
No episódio envolvendo o porteiro do caso Marielle, o presidente chegou a insinuar que o ocorrido era parte de um plano do governador Wilson Witzel (PSC-RJ). Antes aliados, os dois viraram inimigos políticos desde o final do ano passado.
A partir disso, nos bastidores, Bolsonaro reclamava de que o adversário não virava alvo de investigações.
Seus contatos na PF também inflamavam a irritação, dizendo que tipo de apuração poderia vir a ser feita para atender os anseios do presidente e espalhavam que os trabalhos não andavam como deveriam.