A operação da Polícia Federal (PF) contra alvos ligados ao bolsonarismo fez aumentar a pressão dos filhos do presidente Jair Bolsonaro em favor da manutenção de Abraham Weintraub na pasta da Educação. O ministro é um expoente da dita ala ideológica do governo, que professa no discurso a ideia de uma revolução contra a política tradicional.
Wientraub e o chanceler Eduardo Araújo são os principais ministros associados ao grupo, que é liderado pelos filhos do presidente — especialmente o vereador carioca Carlos Bolsonaro (Republicanos) e o deputado federal paulista Eduardo Bolsonaro (PSL) — e emula ideias do escritor Olavo de Carvalho, hoje crítico do governo.
O ministro da Educação ficou por um fio no cargo após virar alvo do Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito tocado pela Corte que apura a disseminação de fake news. Na reunião ministerial de 22 de abril, Weintraub havia dito que os ministros do tribunal eram "vagabundos" que deveriam ir para a cadeia.
O episódio só fez crescer o embate entre Bolsonaro e o Judiciário. No domingo (14), Weintraub participou de um ato pedindo o fechamento do Supremo e do Congresso, na manhã seguinte ao ataque com fogos de artifício ao prédio da Corte por militantes bolsonaristas.
O presidente do STF, Dias Toffoli, fez chegar ao Planalto extrema contrariedade e a ideia de que o diálogo se tornaria impossível entre os poderes.
A saída de Weintraub, prometida há duas semanas como forma de apaziguar as relações pelo Planalto, voltou a ser posta em pauta. Bolsonaro e e o ministro da Educação conversaram na tarde de segunda (15), e o presidente disse à noite que estava tentando resolver o "problema".
O ponto é que Weintraub virou um talismã dos radicais bolsonaristas, apesar dos inúmeros problemas de sua gestão à frente do Ministério da Educação (MEC) e do fato de que teve de ceder ao centrão uma série de cargos com enormes verbas na pasta.
Com isso, a operação contra pessoas como o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos nesta manhã inflou o discurso da ala ideológica de não ceder simbolicamente ao Supremo. Eduardo inclusive repostou, no Twitter, mensagem de apoio a Weintraub feita pelo deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), um dos alvos da PF hoje.
Integrantes da ala militar do governo e outros ministros aconselharam Bolsonaro a se livrar de Weintraub para arrefecer a beligerância na praça dos Três Poderes. Ouviram ponderações favoráveis a isso na segunda, mas nesta terça o clima mudou.
Pesa em favor do ministro da Educação o apreço pessoal de Bolsonaro por ele. Na noite passada, a discussão era onde acomodá-lo sem parecer que seria uma afronta ao Supremo — até embaixadas foram cogitadas.
O caso segue inconcluso, mas a balança por ora foi reequilibrada em favor do ministro pelo que os ideológicos chamam de cerco judicial ao Planalto, um raciocínio que encontra eco entre os ministros oriundos das Forças Armadas e em alguns setores da ativa.