Uma hora depois da liberação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, o presidente da República Jair Bolsonaro se manifestou no Facebook sobre o tema.
"Mais uma farsa desmontada. Nenhum indício de interferência da Polícia Federal. João 8,32 - Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará", declarou ele, compartilhando um trecho da gravação.
Pouco depois, em entrevista à rádio Jovem Pan, ele lamentou a divulgação do vídeo.
— Foi privada (a reunião), lamentavelmente foi divulgada. A responsabilidade disso passa pelo ministro Celso de Mello, que autorizou a divulgação — afirma. Ele também se recusou a pedir desculpas aos governadores de São Paulo, João Doria (PSDB) e do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), que foram chamados de "bosta" e "estrume" na reunião.
No vídeo, Bolsonaro fala a palavra "interferir" por três vezes.
— E eu tenho o poder e vou interferir em todos os ministérios, sem exceção. Nos bancos eu falo com o Paulo Guedes, se tiver que interferir. Nunca tive problema com ele, zero problema com Paulo Guedes. Agora os demais, vou! Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações. Eu tenho as ... as inteligências das Forças Armadas que não tenho informações. ABIN tem os seus problemas, tenho algumas informações. Só não tenho mais porque tá faltando, realmente, temos problemas, pô! Aparelhamento etc. Mas a gente não pode viver sem informação.
Em outro trecho, ele afirma:
— Mas é a putaria o tempo todo pra me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro, oficialmente, e não consegui! E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira.
Responsável pelo inquérito que apura se houve tentativa de interferência em investigações da Polícia Federal (PF) por parte do chefe do Executivo, o magistrado preservou somente trechos ligados a assuntos internacionais e que correspondem a poucos minutos, segundo a decisão do ministro. A gravação da reunião ministerial, ocorrida em 22 de abril, é apontada pelo ex-ministro Sergio Moro como prova de que Bolsonaro fez cobranças sobre a necessidade de promover trocas na PF para proteger familiares e aliados.