O presidente da República, Jair Bolsonaro, fez críticas ao ex-ministro da Justiça Sergio Moro na tarde desta sexta-feira (24), em pronunciamento à imprensa. Moro, mais cedo, havia afirmado que se demitiu do ministério porque Bolsonaro queria interferir na Polícia Federal. Em 46 minutos, o presidente fez diversas considerações sobre os problemas de relacionamento com o ex-juiz da Lava-Jato durante o seu mandato, afirmou que o governo "continua" e que o agora ex-ministro da Justiça queria vê-lo fora da Presidência.
— Uma coisa é você admirar uma pessoa, outra coisa é conviver com ela — disse ele no início do seu pronunciamento.
— O dia em que tiver que me submeter a um subordinado, deixo de ser presidente — declarou em outro momento.
Bolsonaro afirmou que Moro pediu a ele que a troca do ex-diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, fosse feita em novembro, quando o presidente poderia indicá-lo para a vaga de Celso de Mello no Supremo Tribunal Federal (STF). Mais cedo, na coletiva em que anunciou a sua demissão, Moro afirmou que nunca houve negociação pela vaga no STF.
— Mais de uma vez, o Moro disse para mim: "Você disse que pode trocar o Valeixo, sim, depois que o senhor me indicar para o STF". Me desculpe, mas não é por aí. Reconheço as suas qualidades, em chegando lá, se um dia chegar, pode fazer um bom trabalho, mas eu não troco. E outra coisa: é desmoralizante, para um presidente, ouvir isso. Mais ainda, externar - declarou Bolsonaro.
Bolsonaro também afirmou que gostaria de ver atitudes mais firmes da Polícia Federal nas investigações sobre a facada desferida por Adelio Bispo, na campanha eleitoral de 2018, além do inquérito sobre o porteiro que insinuou o envolvimento do presidente no Caso Marielle.
— O que queremos da Polícia Federal é que ela seja usada em sua plenitude. Que suas operações sejam no mínimo mantidas, no meu entender potencializadas, para dar esperança à população brasileira, no combate à corrupção, ao crime organizado.
Bolsonaro também disse que Moro fez acusações "infundadas" na sua coletiva e que o ex-ministro o quer fora da cadeira presidencial.
— Hoje, alguns deputados tomaram café da manhã comigo. Eu lhes disse: "Hoje, vocês vão conhecer quem realmente não me quer na cadeira presidencial. Esse alguém não está no poder Judiciário, nem está no parlamento brasileiro". Não lhes disse o nome. Falei: "Vocês vão conhecê-lo às 11h". Veio com a cunha — declarou.
— Se ele quer ter independência, autoridade, poderia vir candidato em 2018. Agora, eu não posso conviver, ou fica difícil a convivência, com uma pessoa que pensa bastante diferente de você — completou.
Interferência na PF
Em alguns momentos, Bolsonaro fez considerações sobre o que Moro alegava ser uma "interferência" no trabalho da PF. Na sua entrevista coletiva no Ministério da Justiça, o ex-ministro declarou que o presidente queria saber mais detalhes sobre o andamento de algumas investigações.
Bolsonaro confirmou que pediu a Moro relatórios sobre os casos Adelio Bispo, sobre a denúncia do porteiro do condomínio Vivendas da Barra, no Rio de Janeiro (onde vivia o presidente e seus filhos Carlos, Flavio, Jair Renan e Laura), de que Ronnie Lessa passou na casa dele no mesmo dia da morte de Marielle Franco e também sobre o suposto envolvimento de um dos seus filhos, Jair Renan, com um ex-sargento ligado a milícias no Rio.
— Sempre falei para ele: Moro, não tenho informações da PF. Eu tenho que, todo dia, ter um relatório do que aconteceu nas últimas 24 horas para poder decidir o que fazer com essa nação. Eu nunca pedi a ele o andamento de qualquer processo. Até porque a inteligência, com ele, perdeu espaço na Justiça. Quase que implorando informações. E, assim, eu sempre cobrei informações dos demais órgãos oficiais do governo, como a Abin, que tem à frente um delegado da Polícia Federal — afirmou o presidente.
Bolsonaro foi mais específico em relação ao caso de Jair Renan.
— Quando da questão do porteiro (...), os dois ex-policiais teriam ido falar comigo, também apareceu que o meu filho 04 teria namorado a filha do ex-sargento. Eu comecei a correr atrás. Primeiro chamei meu filho: "Abre o jogo". "Pai, eu saí com metade do condomínio, nem lembro quem é essa menina, se é que eu estive com ela". Hoje, a vida é assim. A intenção de dizer que o meu filho namorava a filha do ex-sargento é dizer que tínhamos relacionamento familiar. (...) Aí eu fiz um pedido para a PF. Quase que por favor. Chegue em Mossoró, interrogue o ex-sargento. A PF fez o seu trabalho, interrogou, e está comigo a cópia do interrogatório. Onde diz: "A minha filha nunca namorou o filho do presidente, porque mora nos EUA". Mas eu é que tenho que correr atrás disso? Não é o ministro, a Polícia Federal, que tem que se interessar? Não é para me blindar, porque não tem em curso nenhum crime — declarou.