Amigo do senador Flávio Bolsonaro (ex-PSL-RJ) desde 2010, o policial militar Diego Sodré Ambrósio afirma que o filho mais velho de Jair Bolsonaro pagou a ele R$ 16,5 mil em dinheiro vivo para reembolsá-lo de um empréstimo feito no dia 3 de outubro de 2016. O dinheiro não foi depositado na conta de Ambrósio.
O sargento foi um dos alvos da operação deflagrada pelo Ministério Público (MP) na quarta (18). A Promotoria apontou indícios de lavagem de dinheiro ao detectar que Ambrósio fez o pagamento de uma prestação de um imóvel adquirido por Flávio e sua esposa, no valor de R$ 16.564. Para pagar o boleto em nome de Fernanda Bolsonaro, Ambrósio recorreu ao cheque especial da sua conta pessoal. Como já havia um saldo negativo de quase R$ 5 mil, o buraco chegou a R$ 21.147,68.
Para cobri-lo, o sargento fez uma transferência de R$ 20.450 da conta de sua empresa de vigilância, a Santa Clara Serviços. Ambrósio diz que Flávio o ressarciu em espécie, mas preferiu não depositar o dinheiro, pagando os gastos da empresa com ele.
O sargento afirma, porém, que esse é um "fato corriqueiro na relação de amigos de 10 anos" e que "é pouco provável" que tenha ocorrido uma única vez. Questionado sobre o montante, diz que a avaliação de valores é subjetiva. Segundo Ambrósio, o empréstimo se deu durante um churrasco após a derrota de Flávio na corrida pela Prefeitura do Rio, em 2016.
— Foi uma campanha muito dolorosa — afirmou.
Segundo ele, amigos e integrantes do comitê da campanha estavam reunidos no escritório político da família, em Bento Ribeiro, quando Flávio lembrou-se da necessidade de pagar a prestação do imóvel.
— Não lembro se era um problema de rede ou se ele teria mesmo que ir ao banco, mas me ofereci para pagar (pelo aplicativo) — relatou.
De lá, Ambrósio levou Flávio para seu apartamento. Ele diz não lembrar se Flávio devolveu o dinheiro logo ao chegar em casa ou no dia seguinte.
— Ele me reembolsou. O dinheiro não está na nuvem — disse.
Dono de uma empresa de mão de obra terceirizada para condomínios na zona sul do Rio de Janeiro, Ambrósio reagiu ao fato de a Promotoria ressaltar que ele era cabo à época do empréstimo e que a remuneração líquida do posto corresponde a um terço do valor do título pago.
— Tenho outras fontes de renda — disse.
Para embasar a operação, que também atingiu Flávio e o ex-assessor Fabrício Queiroz, o MP-RJ apontou ainda transferências bancárias de Ambrósio para dois assessores da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Fernando Nascimento Pessoa e Marcos de Freitas Domingos. Foram detectadas ainda transferências do policial militar e de sua empresa para a conta da loja Kopenhagen de Flávio.
"Restam fundadas suspeitas de que Diego Sodré de Castro Ambrósio tenha participação em atos de lavagem dos recursos ilicitamente desviados do orçamento da Alerj, usando suas contas pessoais e as da empresa da qual é sócio", escreveu a Promotoria.
O militar afirma que compra cerca de cem panetones por ano para distribuir a síndicos, fornecedores e colaboradores.
— Foi uma maneira de ajudar um amigo que acabava de abrir uma empresa — justificou, enviando à reportagem fotos de caixas de panetone.
No documento, o MP também citou que Ambrósio foi objeto de uma investigação da Corregedoria Interna da Polícia Militar.
Reportagens de 2016 revelaram que moradores de Copacabana estavam sendo assediados por policiais a contratarem seguranças privados para retirar moradores de rua das calçadas. Uma dessas empresas era a Santa Clara, pertencente a Ambrósio. Ele diz que o inquérito militar foi arquivado seis meses após instaurado e que ele levou o caso à Corregedoria.
Ambrósio conheceu Flávio por intermédio de um amigo, também policial, de quem diz não lembrar, na campanha de 2010. Então deputado, o atual presidente Jair Bolsonaro participou do encontro. Desde então, Ambrósio participa das campanhas de Flávio. Em 2018, chegou a usar seu carro blindado para transportar o então candidato; a comemoração da vitória aconteceu no prédio de Ambrósio, um condomínio-clube, no Recreio dos Bandeirantes.
Em relação às transferências para Fernando, Ambrósio diz estar pagando por serviços de design gráfico. Sobre Domingos, um policial que conhece há 12 anos, ele afirma que o depósito destinava-se a pagar por uma caixa de som comprada pelo amigo.