Fazendeira que se apresenta como a segunda maior produtora de arroz e soja de Mostardas, Giovana Sessim Borges, 51 anos, foi anunciada como a nova chefe do Parque Nacional da Lagoa do Peixe, no sul do Estado. O nome da ruralista formada em direito foi confirmado nesta quarta-feira (4) à comunidade de pescadores da região, mesmo que seu nome ainda não tenha sido publicado no Diário Oficial da União. GaúchaZH havia adiantado, em 25 de outubro, o interesse do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em tê-la como responsável pela unidade de conservação considerada refúgio de aves nativas e migratórias.
Apesar de ter ocupado cargo no primeiro escalão da prefeitura de Mostardas e do apoio declarado dos prefeitos de Mostardas e Tavares, Giovana assegura que sua indicação não foi pavimentada por influência política. Inclusive, diz estar resistindo às pressões locais para assinar ficha de filiação partidária. A advogada garante que, se essa fosse uma condicionante, não aceitaria o posto.
— Vai contra meus princípios. E esse é um desafio que dispensa qualquer tipo de vaidade. Tenho que ter serenidade e agir com a razão, não com a emoção. É assim que faço tudo na minha vida — observou.
Multifacetada, a ruralista tem bom trânsito nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em Mostardas e Tavares. Pela atuação à frente do Conselho Comunitário Pró-Segurança Pública (Consepro) de Mostardas, foi presenteada na Câmara de Vereadores com a Medalha de Mérito Comunitário na segunda-feira (2). A proximidade com líderes produtivos da região vem do cultivo da família, conhecida pelas plantações de soja e arroz e pela criação de 500 cabeças de gado e ovelhas.
Pecuarista defende abrandamento das leis
Atenta às discussões locais, Giovana não hesita em posicionar-se diante da principal polêmica que paira sobre o santuário ecológico: seu rebaixamento de parque nacional para área de proteção ambiental (APA). A mudança de status faria com que a unidade fosse agasalhada por normas bem menos restritivas, inclusive na chamada zona de amortecimento — perímetro no entorno que requer cuidados ambientais mesmo sendo propriedade particular. A pecuarista defende o abrandamento das leis que regem a unidade por acreditar que isso selaria um armistício entre pescadores, criadores de gado, agricultores, ambientalistas e proprietários de terras dentro da unidade de 36,7 mil hectares.
Giovana havia se oferecido ao posto de chefe do parque no primeiro semestre do ano, mas foi preterida pelo ICMBio. O instituto optou por Maira Santos de Souza, jovem de 25 anos exonerada três meses depois a pedido do Ministério Público Federal por inexperiência na área de preservação ambiental.
Casada e com dois filhos — um formado em agronomia e a outra morando nos Estados Unidos —, Giovana cursa Mediação na Escola Superior de Magistratura (Ajuris). Acredita que a formação na área a ajudará no gerenciamento dos conflitos que cercam a Lagoa do Peixe e na resolução de zangas que tem com os vizinhos. Alguns deles acusam ela e o marido de aplicarem incorretamente agrotóxicos nas lavouras, espalhando produto químico para propriedades lindeiras.
A polêmica é tão grande na cidade que envolveu até o Laboratório Central de Saúde Pública do Estado. No ano passado, técnicos do Lacen analisaram amostras de sangue de seis vizinhos, incluindo duas crianças, mas não atestaram intoxicação causada por exposição aos produtos usados nas lavouras. Na prefeitura de Mostardas, a mesma denúncia foi arquivada sem que um processo administrativo fosse aberto para acompanhar a situação.
Uma dessas desavenças, porém, foi levada ao judiciário e teve desfecho em audiência de conciliação. Por acordo mútuo diante de um juiz, o marido de Giovana se dispôs a ressarcir o vizinho que acusa o casal de envenenar patos e galinhas que cruzavam a cerca para os lados das plantações de soja e arroz. Como parte do acordo, os animais que sobreviveram precisam ficar presos nos meses de plantio.
— É uma coisa de mesquinharia desses vizinhos. Eles têm muita má-fé — comentou Giovana.