Em direção contrária ao Congresso, que discute a ampliação do fundo público eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira (4) que uma disputa não é mais definida pelo total de recursos. Em frente ao Palácio da Alvorada, onde cumprimentou um grupo de eleitores, ele afirmou que a vida pregressa e a imagem do candidato têm mais peso no voto do eleitor, com o avanço da tecnologia.
O Congresso Nacional pretende ampliar para R$ 3,8 bilhões o valor do fundo eleitoral destinado a financiar as campanhas municipais de 2020. O montante é quase o dobro do que havia sido indicado pelo governo.
— Eu acredito que, hoje em dia, com a tecnologia que nós temos, o dinheiro em si não vai fazer mais diferença. É mais a confiança que o eleitor tem em sua imagem e a análise da vida pregressa. Eu já vi deputado federal gastando R$ 15 milhões na campanha e não chegar (à Câmara) — disse.
A elevação do montante foi apresentada pelo deputado federal Domingos Neto (PSD-CE), relator do Orçamento 2020, que precisa ser aprovado na Comissão Mista de Orçamento (CMO) e em plenário. A data limite é 22 de dezembro, e o texto já está na pauta para 17 de dezembro.
Caso seja aprovada, a medida precisa ser sancionada pelo presidente. Apesar de ter sinalizado posição contrária, o presidente não quis antecipar se sancionaria ou vetaria uma elevação do fundo eleitoral.
— Geralmente, essas questões políticas é o parlamento que decide. Não sei se vai ser aprovado (por ele) — disse.
A verba para o fundo que financia a eleição é constituída por dotações orçamentárias da União em ano eleitoral, em valor ao menos equivalente a 30% dos recursos de emendas parlamentares de bancada. Em 2018, o fundo distribuiu R$ 1,7 bilhão aos candidatos. Havia pressão para que esse montante subisse a até R$ 3,7 bilhões no ano que vem.
No Palácio da Alvorada, o presidente também foi questionado sobre as eleições presidenciais de 2022. Ele elogiou o desempenho no governo do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, cotado para compor uma chapa à reeleição com ele, mas ressaltou que, por enquanto, está "casado" com o vice-presidente Hamilton Mourão.
— Não quero saber de política. É um saco a minha vida, cara. Eu chego em casa igual a um zumbi — disse. — Por enquanto, estou casado com Mourão. Sou sem amante — afirmou.
Ele lembrou que Moro é neófito na política, mas que à frente do cargo de ministro tem aprendido a dialogar com o Legislativo, o que, na opinião de Bolsonaro, é essencial.
— Tem que conversar com o parlamento. O Moro tá indo bem para caramba também na parte política — disse. — Moro está indo muito bem. Está aprendendo, está ficando um hábil político — avaliou.
O presidente disse ainda que é necessário aguardar o encerramento da votação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para saber exatamente como funcionará a coleta de assinaturas digitais. A Corte eleitoral ainda não definiu regras e prazos.
Ele observou que, se o processo não for complexo, será possível criar a Aliança pelo Brasil em um prazo de 30 dias, viabilizando sua participação nas eleições municipais de 2020. O partido tem quatro meses para ser constituído caso queira disputar. O presidente ponderou, no entanto, que, caso a regra não seja adotada para 2020, obrigando a coleta de assinaturas impressas, não será possível criar a sigla a tempo.
— Se não for muito burocrático a assinatura pela internet, em menos de 30 dias a gente colhe as assinaturas. Se for no braço, a gente não vai conseguir formar um partido, isso com certeza. Não depende apenas de colher assinaturas, mas da conferência também — disse.
O presidente, depois de 20 minutos de entrevista sob chuva, elogiou os jornalistas presentes e citou a Folha de S.Paulo, em tom de brincadeira.
— Eu vou cumprimentar vocês. Vocês estão indo muito bem, nenhuma pergunta chata até agora. Assim, vou me apaixonando pela imprensa. Eu quero assinatura da Folha agora — disse.