O ex-presidente Michel Temer (MDB) sugeriu neste sábado (16), durante 5º Congresso Nacional do Movimento Brasil Livre (MBL), que o movimento liderasse um processo de pacificação do país.
- O MBL poderia, com essa juventude toda, com natural entusiasmo, encabeçar um movimento pela tranquilização do país -afirmou no segundo dia de evento, no WTC Center Events, no Brooklin, em São Paulo.
Recebido com aplausos, o ex-presidente foi sabatinado pelos jornalistas Carlos Andreazza, editor-executivo do Grupo Editorial Record, Fábio Zanini, repórter da Folha de São Paulo, e José Fucs e Vera Magalhães, ambos do jornal O Estado de S. Paulo.
Antes da entrada de Temer, os membros do MBL que apresentaram a mesa afirmaram que a participação do ex-presidente era um dos pontos altos das edições do congresso e que representava um amadurecimento do movimento nos últimos anos.
Em entrevista à Folha em julho deste ano, o coordenador nacional do MBL, Renan Santos, reconheceu que ele e seus colegas abriram "a caixa de Pandora de um discurso polarizado".
No começo da sabatina, Temer agradeceu aos "amigos do MBL" e elogiou o documentário "Não Vai Ter Golpe", lançado pelo movimento neste ano. Questionado sobre se é importante o MDB e o próprio ex-presidente fazerem uma autocrítica, ele afirmou que é "sempre fundamental" e que fazia autocríticas até quando estava na Presidência.
- Essa história que não é preciso, é conversa - disse.
Temer também afirmou que o ex-presidente Lula (PT), que foi solto na sexta-feira (8) após passar 580 dias preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, faria bem se pedisse unidade ao país.
- Eu lamento muito que o ex-presidente Lula tenha se manifestado, nesses dias, aumentando essa radicalização ou, ainda, essa polarização [no país] - disse.
Esse foi o último painel do evento, que se encerra neste sábado. O congresso reuniu políticos como o senador Alvaro Dias (Podemos) e o deputado federal Kim Kataguiri (DEM).
Neste ano, Temer esteve preso por duas ocasiões em ação ligada à Lava-Jato. Ele é acusado pelo Ministério Público Federal de receber propina relacionada a um contrato firmado entre a estatal Eletronuclear, responsável pelas obras da usina de Angra 3, e as empresas Argeplan --do amigo do emedebista, o coronel João Baptista Lima Filho--, AF Consult e Engevix.
No início de abril, Temer se tornou réu nesse caso. Ele nega as acusações. No caso da gravação envolvendo o empresário Joesley Bastista (da JBS), contudo, o ex-presidente foi absolvido em outubro.
O ex-presidente foi denunciado em 2017 pelo então procurador-geral da República Rodrigo Janot com base numa gravação em que, supostamente, incitava Joesley a manter pagamentos ao corretor Lúcio Bolonha Funaro e, com isso, evitar que ele fizesse um acordo de delação premiada. A gravação foi feita pelo próprio Joesley, que viria a firmar colaboração, na garagem do Palácio do Jaburu, em março daquele mesmo ano.
Além de Funaro, a denúncia inicial de Janot acusava Temer de tentar comprar o silêncio do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB).
Em sua decisão, o magistrado Marcus Vinícius Reis Bastos, da 12ª Vara da Justiça Federal em Brasília, sustenta que o MPF editou trechos de um áudio apresentado como prova e que o conteúdo não configura ilícito penal "nem em tese".
O ex-presidente é réu em outros oito processos.