A soltura do ex-presidente Lula na tarde desta sexta-feira (8) dominou os noticiários de alguns dos principais veículos do mundo. O pedido da defesa do petista foi protocolado na manhã desta sexta. Na quinta-feira (7), o Supremo Tribunal Federal (STF), por 6 votos a 5, derrubou a execução antecipada da pena após condenações em segunda instância.
O The Washington Post definiu Lula como um "ex-presidente brasileiro que exerceu enorme influência na America Latina durante décadas" e afirmou que a soltura do petista enviou "ondas de choque político por um país amargamente divido por sua prisão".
O The New York Times lembrou, entretanto, que ele não pode ser candidato devido à Lei da Ficha Limpa. O jornal americano também lembrou que não houve comentário do atual presidente, Jair Bolsonaro, e repercutiu comentário da deputada gaúcha Maria do Rosário sobre o "senso de esperança" trazido pela libertação de Lula.
Já o The Guardian ressaltou que a decisão proferida pelo STF encantou os seguidores do ex-presidente, mas enfureceu os apoiadores de Jair Bolsonaro. O veículo britânico fez menção às revelações do The Intercept Brasil sobre os diálogos entre o então juiz Sério Moro e os procuradores da Lava-jato.
"Como presidente de 2003 a 2010, Lula presidiu um período extraordinário de crescimento econômico e redução da desigualdade, pois esquemas inovadores de transferência de renda tiraram dezenas de milhões da pobreza. Mesmo na prisão, ele lançou uma longa sombra sobre a política brasileira - e sua libertação provavelmente só aumentará as amargas divisões políticas", afirmou o texto.
Em seu texto, o francês Le Monde relatou o fato da liberação do ex-presidente, condenado a oito anos e dez meses de prisão após um "controverso" julgamento por corrupção na Lava-Jato. O veículo ainda traz um histórico da operação, em que cita o ministro da Justiça, Sergio Moro.
O Le Figaro definiu Lula como o "combativo" e "carismático líder da esquerda brasileira". O jornal reforçou o fato do ex-presidente sair beijando "calorosamente" simpatizantes e curvando-se para a multidão com o punho levantado, além de definir a decisão do STF como um "golpe" para a operação Lava Jato.
O jornal alemão Süddeutsche Zeitung traz uma foto em que o ex-presidente aparece cercado de apoiadores e com as mãos para cima fazendo o sinal de "L".
Repercussão na América do Sul
A soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também apareceu na capa dos sites dos maiores veículos jornalísticas da América do Sul. A repercussão vai de matérias sóbrias sobre o discurso após Lula deixar a sede da superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, até análises do impacto do fato na política local e do continente.
Um dos que mais esmiuçaram o acontecimento foi o Clarín, da Argentina, que noticiou na manchete de seu site: "Corrupção no Brasil: Lula sai do cárcere depois de 580 dias preso". Segundo o jornal, o presidente recém eleito da Argentina, Alberto Fernández, convidará Lula para sua cerimônia de posse, em 10 de dezembro.
O Clarín também entrevistou o deputado Felipe Solá, mais cotado para ser o novo chanceler da Argentina. Para Solá, "o Brasil recuperou um estadista formidável e o mundo hoje é um pouco mais justo."
O Clarín traz ainda a análise de um articulista local, Ignacio Miri, que opina que a libertação de Lula e sua proximidade com Fernández pode prejudicar as relações entre o presidente eleito Argentino e o brasileiro, Jair Bolsonaro. Para Miri, "tudo está organizado para que, com Lula voltando a fazer política nas ruas, e com Fernández instalado na Casa Rosada, Bolsonaro jogue para apertar a corda ao máximo."
Colômbia e Chile também repercutiram a libertação de Lula, mas sem maiores análises, com manchetes sóbrias. O jornal El Espectador, de Bogotá, deu em sua manchete críticas de Lula à Justiça brasileira: "Lula após libertação: 'O lado podre da Justiça trabalhou para criminalizar o PT". Já o El Mercurio, de Santiago, publicou: "Lula da Silva é libertado da prisão diante de uma multidão de adeptos que o aguardavam."
No Uruguai, em que há eleições no próximo final de semana, o jornal El Observador, além de noticia a libertação, publicou a manifestação do ex-presidente José Mujica em visitá-lo no futuro próximo: "Passadas as eleições, tenho que ir ao México. E, se tudo der certo, tentarei vê-lo." O
portal publicou ainda uma reportagem sobre as manifestações de diferentes chefes de Estado e outras celebridades do continente em apoio a Lula, como Cristina Kirschner, Nicolás Maduro, Rafael Correa e até Diego Maradona, que publicou em seu Instagram uma foto com Lula e a legenda: "Hoje se fez justiça".