Na primeira prova de fogo do pacote que promete mexer nas carreiras do funcionalismo do Estado, o governador Eduardo Leite se reúne, nesta quarta-feira (9), com a direção do Cpers-Sindicato, representante de uma das categorias mais numerosas e resistentes às mudanças.
No início do encontro, que ocorre no Centro Administrativo, na Capital, e deve prosseguir até as 16h, a presidente da entidade, Helenir Schürer, deu o tom da conversa: disse que a direção do órgão está disposta a ouvir, mas pediu atenção à defasagem salarial dos professores. Os docentes da rede estadual não recebem aumento desde 2015 - nem mesmo a reposição da inflação.
— Espero que na apresentação que vamos ver agora o governo tenha levado em conta a necessidade absoluta de recuperar nosso salário — advertiu Helenir.
Minutos antes, ao chegar ao auditório do Centro Administrativo, Leite fez questão de cumprimentar todos os 15 integrantes da comitiva do Cpers — e foi correspondido, apesar do clima de tensão no ar.
O grupo já estava acomodado na plateia quando o governador apareceu. Os assentos destinados a ele e ao secretariado estavam no palco. A um aceno de Leite, as cadeiras foram retiradas de lá e colocadas ao nível do solo, de frente para os convidados, a cerca de um metro e meio de distância.
Depois de se sentar em frente a Helenir, o governador deu boas-vindas e ouviu da professora um pedido — ela queria autorização para que o assessor de imprensa da entidade permanecesse no local, para cobrir o encontro. De imediato, Leite assentiu. Em seguida, explicou que a imprensa faria algumas imagens antes de deixar o local e entregou o microfone a Helenir, de forma amistosa.
Observada em silêncio pelos presentes, a líder sindical agradeceu o convite para a reunião. Na sequência, pediu mais atenção da parte do governo e advertiu para a desvalorização salarial enfrentada pela categoria. Depois, se mostrou aberta ao diálogo, embora, desde a chegada, já tivesse ficado claro que o Cpers seria apenas um espectador - a chance de alteração da proposta era mínima.
— Estamos aqui para ouvir. Ainda não decidimos nada — ponderou Helenir.
Assim que a imprensa deixou o auditório, Leite deu início à apresentação de dezenas de slides em um telão. De acordo com o relato do assessor que permaneceu no recinto, até o momento, o governador concentra esforços em demonstrar a situação financeira crítica do Estado. Somente depois disso passaria a falar das modificações no plano de carreira do magistério — que data de 1974 e, até hoje, nunca foi atualizado.
Entre as mudanças, Leite quer reduzir o número de níveis de progressão funcional de seis para cinco e pagar o piso nacional do magistério como manda a lei. Em contrapartida, pretende extinguir todos os adicionais por tempo de serviço e mexer no adicional de difícil acesso.
Além disso, se o projeto for aprovado na Assembleia, a remuneração prevista para cada nível e classe da carreira não estará mais atrelada ao básico, o que, até agora, gerava um efeito-cascata bilionário sempre que o governo decidia dar reajuste aos mestres — por menor que fosse.
A decisão de propor a reformulação das regras é a quarta tentativa desde 1974. Em todas as vezes em que governantes tentaram modificar o plano de carreira dos professores — isso ocorreu nas gestões de Alceu Collares (PDT), Antônio Britto (então PMDB) e Yeda Crusius (PSDB) —, o Cpers resistiu às alterações.