O ministro da Justiça, Sergio Moro, optou ficar em silêncio sobre as declarações do presidente Jair Bolsonaro em relação à Polícia Federal (PF). O ex-juiz federal ficou apenas três minutos em um evento marcado pela pasta nesta quarta-feira (4) e foi embora sem responder a perguntas dos jornalistas.
O ministério convocou a imprensa para uma entrevista sobre a terceira fase de uma operação de combate à pedofilia, deflagrada nesta manhã. A presença de Moro estava confirmada, ao lado de secretários e diretores da pasta.
O ministro fez o discurso de abertura, falou por cerca de dois minutos e meio e disse que teria de ir embora para um outro compromisso. A reportagem do jornal Folha de S.Paulo perguntou a Moro, enquanto ele se retirava da sala do ministério da Justiça, sobre a troca de comando da PF. Ele não respondeu, acenando com a mão, dando tchau.
A assessoria do Ministério da Justiça não soube informar para qual compromisso o ministro foi ao deixar a entrevista. Em sua agenda disponível no site, havia uma reunião com a desembargadora Rosane Portella Wolff, às 11h. O evento com a imprensa começou às 10h35min.
Ontem, Bolsonaro afirmou à Folha de S.Paulo que o comando da PF precisa dar uma "arejada" e chamou de "babaquice" a reação de integrantes da corporação às declarações dele sobre trocas em superintendências e na diretoria-geral da entidade.
O chefe do executivo nacional disse ainda que já teve uma conversa com Moro sobre uma possível mudança na direção da PF, subordinada ao ministro da Justiça.
— Está tudo acertado com o Moro, ele pode trocar (o diretor-geral, Maurício Valeixo) quando quiser — afirmou.
Intromissão de Bolsonaro na Polícia Federal
A crise com a PF teve início em julho deste ano, quando Bolsonaro anunciou que Ricardo Saadi seria substituído por Alexandre Saraiva no comando da Superintendência fluminense da instituição. A direção da PF, entretanto, havia escolhido Carlos Henrique Oliveira Sousa, da Superintendência de Pernambuco para a posição.
A decisão de Bolsonaro foi entendida pela corporação como uma interferência do presidente em assunto interno. Em meio ao clima de desconforto, o mandatário do executivo nacional afirmou que, se não puder trocar um superintendente do órgão, pode mudar o diretor-geral da PF. Dentro deste cenário, a direção da instituição optou por paralisar, temporariamente, o processo de indicação do novo superintendente no Rio de Janeiro.
Desde o início da crise com a PF, o ministro falou sobre o assunto apenas em uma entrevista ao canal GloboNews.
— Veja, como eu tenho as várias funções aqui do Ministério da Justiça, as coisas eventualmente podem mudar, mas ele (Maurício Valeixo) está no cargo, permanece no cargo, tem a minha confiança — disse, em 28 de agosto.
Em compromissos do ministério, Moro tem marcado eventos sem contato direto com a imprensa, fazendo apenas pronunciamentos. A agenda desta quarta-feira, porém, foi o primeira convocada no formato de entrevista coletiva.