O porta-voz da Presidência da República, Otávio Rêgo Barros, afirmou nesta quarta-feira (25) que o presidente Jair Bolsonaro não pretende tirar Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) da liderança do governo no Senado.
Bezerra Coelho e seu filho, o deputado federal Fernando Coelho Filho (DEM-PE), foram alguns dos alvos de mandados de busca e apreensão autorizados pelo ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF). Ao todo, a Polícia Federal cumpriu 52 mandados na quinta-feira (19).
Questionado sobre a situação de Bezerra Coelho, Rêgo Barros disse que Bolsonaro já se manifestou sobre o assunto em uma entrevista publicada pelo jornal Correio Braziliense.
— Sobre esse assunto, em recente entrevista, o presidente disse: "é preciso de algo mais concreto. Não posso tirá-lo de lá com uma busca e apreensão de um processo antigo e que nós já sabíamos que existia" — afirmou o porta-voz.
Na entrevista, Bolsonaro também disse que Bezerra Coelho "tem todo o direito de se defender".
— (Ele) tem feito, até o presente momento, um brilhante trabalho para nós, dentro do Senado. É uma função ingrata, difícil, dá trabalho conversar com parlamentares dos mais diferentes matizes — disse o presidente na entrevista.
Parlamentar experiente, Bezerra chegou a ser ministro da Integração Nacional da ex-presidente Dilma Rousseff.
O senador nega ter cometido irregularidades e colocou a liderança do governo no Senado à disposição do presidente da República, que sinalizou sua manutenção no cargo.
Ao blindar Bezerra, Bolsonaro preserva seu principal articulador político no Senado, onde está tramitando atualmente a reforma da Previdência — principal pauta da agenda econômica do governo.
O inquérito apura desvio de dinheiro público de obras na região Nordeste, envolvendo os parlamentares e quatro empresas, entre elas a OAS. A operação foi batizada como Desintegração.
A Polícia Federal sustenta que o líder do governo recebeu R$ 5,5 milhões em propinas de empreiteiras encarregadas das obras de transposição do rio São Francisco e nas do Canal do Sertão. Os fatos investigados no âmbito da operação da semana passada são do período em que o senador, então no PSB, fazia parte da equipe ministerial da petista.
A Polícia Federal afirma também ter encontrado no gabinete de Bezerra Coelho um arquivo denominado "doadores ocultos" em um computador e em um disco de memória. Segundo informações que estão no relatório da PF, há também documentos digitais que fazem referência a pagamentos destinados a empresas envolvidas na operação Desintegração.
A operação da PF irritou parlamentares. A Mesa do Senado entrou com um pedido no Supremo para que a análise dos objetos e documentos recolhidos seja suspensa imediatamente.
No dia da operação, Bezerra Coelho entregou à Polícia Federal a senha do seu celular. Segundo relatos, o político desbloqueou o telefone de maneira impensada, pouco tempo antes de seus advogados chegarem ao local, em sua residência oficial em Brasília.
No aparelho, há conversas com outros parlamentares, como, por exemplo, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro. Todo o material apreendido na ação policial passa agora por perícia, sem prazo para terminar.
O senador não é o único aliado citado em investigações que Bolsonaro decidiu manter em sua equipe.
A Polícia Federal vê, por exemplo, elementos de participação do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo) numa fraude de candidaturas de laranjas do PSL na eleição de 2018. O esquema de candidaturas de laranjas foi revelado pelo jornal Folha de S.Paulo. No entanto, Bolsonaro tem mantido o ministro no cargo.