Professor de Literatura e Estudos Culturais na Georgetown University, nos Estados Unidos, o gaúcho Willyam Thums, 30 anos, é autor de um livro-sátira. Mas o que parece natural ao som do ouvido ganha proporções inusitadas ao passo que curiosos clicam na obra disponível no site da Amazon: sob o título Por que Bolsonaro merece respeito, confiança & dignidade?, o livro possui 188 páginas em branco.
— É um livro que não deixa de ser satírico mesmo que esteja todo em branco, porque o Brasil vive uma atmosfera em que as pessoas parecem que não se entendem mais. Os opositores (do governo) podem falar o que quiserem, mas parece que as pessoas que foram os eleitores do presidente (Bolsonaro) não aceitam qualquer tipo de comentário. Então eu achei que foi necessário fazer um livro para propagar essa ideia de que o silêncio também tem poder — explicou, em entrevista ao programa Timeline nesta sexta-feira (16)
A obra está disponível desde março na Amazon, segundo Willyam, mas viralizou nas redes sociais na noite de terça-feira (16). O autor afirma que ficou surpreso com a repercussão depois de tanto tempo e que tem tido de lidar com uma enxurrada de notificações desde então, mas não se preocupa: se as mensagens que recebe começam a ficar ofensivas, apenas bloqueia. Para ele, oferecer silêncio é um gesto político.
— O silêncio não se engaja e nem cai nessas artimanhas de usar o mesmo tom agressivo ou raso do Bolsonaro. Há outras formas de contestar essa ignorância. (...) Morando no Exterior, eu enxergo que o Brasil está passando por um momento vergonhoso por ter esse governo desajeitado e que é propagado por discursos agressivos com comunidades dentro do próprio país e internacional— opina.
Indagado sobre seu viés político, Willyam conta que votou em Ciro Gomes, candidato do PDT nas eleições presidenciais de 2018. Para ele, as coisas devem ser analisadas contextualmente. Ao ser questionado se deixaria o livro em branco também caso o personagem fosse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o escritor afirmou:
— Eu deixaria em branco também. No momento que passa o Brasil, eu acho que nenhum extremismo pode salvar a economia ou projetos de governança — responde.