Reduzido à sétima força política da Câmara e sem a influência dos tempos em que antagonizava as discussões com a esquerda, o PSDB busca se reinventar como partido de centro em meio à maior crise de identidade de sua história. Antes, a legenda precisa resolver conflitos internos, sobretudo a divisão entre os grupos do deputado Aécio Neves (MG) e do governador de São Paulo João Doria.
Aécio venceu a primeira batalha. Em reunião da executiva nacional, na última quarta-feira, derrotou por 30 votos a quatro, com uma abstenção, dois pedidos de expulsão contra ele apresentados pelo grupo do governador. Mais do que vitória do mineiro, o placar serviu para a ala histórica dos tucanos frear o ímpeto de Doria, pretenso candidato à Presidência da República em 2022.
Um dia antes, antevendo hostilidades, o governador foi à Câmara e apresentou à bancada o novo integrante, Alexandre Frota. Expulso do PSL, o deputado foi incorporado por Doria, à revelia do restante do partido. A dispensa de consulta prévia irritou parlamentares e a visita do governador não arrefeceu os ânimos. A resposta veio no dia seguinte, quando integrantes da executiva enfileiraram críticas a Doria e admitiram espírito revanchista na votação.
A pressão pela expulsão de Aécio começou com Doria, com respaldo na bancada paulista do PSDB. O grupo foi reduzido de 14 para seis deputados federais na eleição do ano passado. O tombo nas urnas foi atribuído à crise moral do ex-governador mineiro, réu em uma ação penal e alvo de seis outras investigações. Os paulistas não desistiram da empreitada, mas concordaram em seguir o estatuto partidário, pelo qual apenas condenados judicialmente serão submetidos ao conselho de ética.
O PSDB tenta encontrar rumo ideológico. A polarização entre lulistas e bolsonaristas tirou espaço e protagonismo do partido. Com quadros identificados com temas de esquerda, de centro e de direita, a legenda vive um vazio retórico, sem capacidade de formular discurso alternativo aos extremismos vocalizados pelo PSL e pelo PT.
Até a pauta liberal, marca da siglas nos anos 1990, foi subtraída pelas forças da nova direita, com DEM, Novo e PSL. Tucanos repelem alinhamento automático ao Planalto, sob pena de serem vistos como aliados de Jair Bolsonaro. Para tanto, cada votação na Câmara é discutida projeto a projeto. O objetivo é voltar a ser percebido como partido à margem de radicalismos.