Um dos presos sob suspeita de ter hackeado celulares de autoridades, Gustavo Henrique Elias Santos, 28, morador de Araraquara (SP), trabalhava como DJ na cidade e já respondeu a processo sob acusação de porte ilegal de arma. A prisão de Santos surpreendeu sua família, que diz acreditar em um erro da investigação.
— Estou chocada, estou tremendo, tenho certeza que meu filho não está envolvido nisso, não. Eu acho que foi um erro tamanho — disse à Folha de S.Paulo na noite desta terça (23) a mãe do DJ, Marta Elias Santos. — Eu desconheço (o suposto envolvimento), não passa na minha cabeça uma coisa dessa.
Santos é um dos quatro presos temporariamente pela Polícia Federal por suspeita de ter atacado celulares de autoridades como o ex-juiz e ministro da Justiça, Sergio Moro, e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da LavaJato em Curitiba.
Foram presos três homens e uma mulher nas cidades de Araraquara, São Paulo e Ribeirão Preto (SP). Além de Santos, um outro suspeito também é de Araraquara. A reportagem não conseguiu confirmar, até o momento, os nomes dos demais investigados.
O advogado de Santos, Ariovaldo Moreira, disse que conhece o rapaz há anos e nunca soube de envolvimento dele com atividades de hackers.
A reportagem apurou que a PF chegou aos suspeitos por meio da perícia criminal federal, que conseguiu rastrear os sinais dos ataques aos telefones. Para investigadores, o grau de capacidade técnica dos hackers não era alto.
A investigação, segundo a reportagem apurou, não estabelece com exatidão se o grupo investigado em São Paulo tem ligação com o pacote de mensagens dos procuradores da Lava-Jato obtido e divulgado pelo site The Intercept Brasil.
O advogado de Santos disse duvidar dessa relação. — Eu, particularmente, não acredito, pelo que conheço meu cliente, que ele esteja envolvido nessa questão daquelas mensagens do ministro com o procurador — afirmou Moreira.
Ele já atuou como defensor de Santos em outro processo anteriormente, pelo qual o DJ respondeu por porte ilegal de arma. Segundo o site do Tribunal de Justiça de São Paulo, Santos foi condenado naquele caso a pagar multa e a prestar serviços à comunidade.
As ordens de prisão foram expedidas pelo juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10ª Vara Federal em Brasília. O delegado da PF à frente do caso é Luís Flávio Zampronha, que em 2005 e 2006 presidiu o inquérito policial que apurou o escândalo do mensalão.
O inquérito foi aberto em Brasília para apurar, inicialmente, ataque aos aparelhos de Moro, do juiz federal Abel Gomes, relator da Lava-Jato no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2ª Região), do juiz federal Flávio Lucas, que atua no Rio, e dos delegados Rafael Fernandes e Flávio Reis, da PF em São Paulo.
Segundo investigadores, a apuração mostrou que o celular de Deltan Dallagnol também foi alvo do grupo. O caso de autoridades da Lava-Jato em Curitiba está sendo tratado em inquérito aberto pela Polícia Federal no Paraná.