A Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho (Anamatra) criticou as declarações favoráveis ao trabalho infantil feitas pelo presidente Jair Bolsonaro na última quinta-feira (4).
A entidade afirmou que Bolsonaro demonstra desconhecer por completo a realidade de mais de dois milhões de crianças e adolescentes massacrados pelo trabalho em condições superiores às suas forças físicas e mentais.
De acordo com posicionamento da Anamatra, o presidente ignora os traumas psicológicos advindos do amadurecimento precoce, do enfraquecimento dos laços familiares e do prejuízo ao desenvolvimento da escolaridade, e, consequentemente, das oportunidades para quem começa a trabalhar enquanto criança.
A associação defendeu que os cidadãos brasileiros aguardam que o governo Federal desenvolva políticas públicas de reinserção de 45 milhões de adultos desempregados e subutilizados ao mercado de trabalho.
Além disso, a entidade afirmou que o governo deve seguir a previsão da Constituição de assegurar à criança e ao adolescente os direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
A associação aponta que o Brasil tem 2,4 milhões de crianças e adolescentes entre cinco e 17 anos trabalhando, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o que representa 6% da população nesta faixa etária.
Em sua live semanal no Facebook, Bolsonaro defendeu o trabalho infantil usando como principal argumento sua experiência pessoal.
— Olha só, trabalhando com nove, 10 anos de idade na fazenda eu não fui prejudicado em nada. Quando um moleque de nove, 10 anos vai trabalhar em algum lugar, tá cheio de gente aí "trabalho escravo, não sei o quê, trabalho infantil". Agora, quando tá fumando um paralelepípedo de crack, ninguém fala nada — comentou o presidente.
O presidente afirmou que não prevê a apresentação de nenhum projeto sobre o tema, para que não seja massacrado. No entanto, Bolsonaro lamentou os tempos atuais ao dizer que hoje em dia há "mais direito do que dever":
— Hoje em dia é tanto direito, tanta proteção que temos uma juventude aí que tem uma parte considerável que não tá na linha certa. O trabalho dignifica o homem e a mulher, não interessa a idade.