O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) criticou nesta quarta-feira (31) a "incontinência verbal" de Jair Bolsonaro (PSL) e somou-se à onda de repúdio contra o presidente pelas afirmações sobre o pai do presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Felipe Santa Cruz.
Em uma rede social, o tucano escreveu que Bolsonaro "despreza os limites do bom senso por sua incontinência verbal".
"Contraria documentos oficiais sobre o pai do presidente da OAB e dá vazão a rompantes autoritários. Prejuízo para ele e para o Brasil: gostemos ou não foi eleito. O que diz repercute e afeta nossa credibilidade", afirmou FHC.
Um dia antes, no mesmo perfil, o ex-presidente fez um apelo por sensatez e razão, "diante da barbárie do presente", sem mencionar pontos específicos.
Desde que Bolsonaro chegou à Presidência da República, FHC tem feito comentários negativos sobre o atual presidente. Em abril, disse que o governo era pior do que ele esperava e não tinha feito nada até aquela altura. Em janeiro, declarou-se de oposição ao atual ocupante do Planalto.
Mais cedo, nesta quarta, Bolsonaro disse que não quebrou o decoro ao dizer que poderia explicar ao presidente da OAB como o pai dele desapareceu durante a ditadura militar (1964-1985). A declaração de dois dias atrás provocou uma série de repercussões de políticos e entidades.
"Não tem quebra de decoro. Quem age desta maneira, perde o argumento", afirmou o presidente em Brasília.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, documentos oficiais desmontam a versão de Bolsonaro sobre Fernando Santa Cruz. O presidente disse que o servidor público foi morto por militantes de esquerda, mas a tese contraria toda a série de documentos produzidos pela própria ditadura sobre Fernando.
O ativista político desapareceu em fevereiro de 1974, após ter sido preso junto de um amigo chamado Eduardo Collier por agentes do DOI-Codi, órgão de repressão da ditadura militar, no Rio.
A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos emitiu no último dia 24 um atestado de óbito de Santa Cruz, no qual informa que ele morreu em 1974 de forma "violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985".