O presidente Jair Bolsonaro deu nota 10 nesta quinta-feira (20) ao ministro Sergio Moro (Justiça) pelo desempenho do ex-juiz federal, um dia antes, em depoimento no Senado para explicar a troca de mensagens vazadas dele com o procurador Deltan Dallagnol, chefe da Lava-Jato.
Na audiência, ao longo de nove horas, Moro admitiu a possibilidade de deixar o posto no governo caso sejam apontadas irregularidades em sua conduta.
—(Nota) 10 pro Moro. Subiu no meu conceito. Apesar que ele não poderia crescer mais do que já cresceu — disse o presidente, em Miracatu, interior de São Paulo.
Questionado se a situação atual comprometia a indicação de Moro para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro respondeu:
—Quando você desconfia do seu marido, o que você faz com ele? Eu não estou desconfiado de ninguém.
Na sessão no Senado, Moro travou embates com senadores petistas e afirmou ainda ser alvo de um ataque hacker que mira as instituições e que tem como objetivo anular condenações por corrupção.
Moro se ofereceu para ir à CCJ para esfriar o trabalho de coleta de assinaturas para a criação de uma CPI para investigá-lo. Ao iniciar sua fala, disse não ter nada a esconder, que gostaria de fazer esclarecimentos "em cima do sensacionalismo que tem sido criado" e focou a defesa da Lava-Jato.
Ao longo da sessão, o ministro disse não ter como garantir a veracidade das mensagens, mas também não as negou. Moro refutou a possibilidade de ter feito conluio com o Ministério Público, chamou a divulgação das mensagens de sensacionalista e desqualificou os que apontaram irregularidades na sua atuação quando juiz da Lava-Jato.
Nas conversas publicadas pelo site Intercept, Moro sugere ao Ministério Público Federal trocar a ordem de fases da Lava-Jato, cobra a realização de novas operações, dá conselhos e pistas, antecipa ao menos uma decisão judicial e propõe aos procuradores uma ação contra o que chamou de "showzinho" da defesa do ex-presidente Lula.
Segundo a legislação, é papel do juiz se manter imparcial diante da acusação e da defesa. Juízes que estão de alguma forma comprometidos com uma das partes devem se considerar suspeitos e, portanto, impedidos de julgar a ação. Quando isso acontece, o caso é enviado para outro magistrado.
As conversas entre Moro e a Lava-Jato também provocaram reação no STF. Na terça-feira (25), um pedido dos advogados de Lula pela anulação do processo do tríplex em Guarujá (SP), que levou o petista à prisão em abril do ano passado, será analisado pela Segundo Turma da corte.
Após ser anunciado como um dos principais nomes do novo governo, o ex-juiz acumulou derrotas em menos de seis meses mandato. Sob desgaste devido à divulgação de mensagens do período da Lava-Jato, ainda teve que aguardar a cautela de Bolsonaro em defendê-lo abertamente.
O presidente chegou a manter silêncio por três dias e, no último sábado (15), embora tenha defendido o legado de Moro, afirmou que não existe confiança 100%. "Meu pai dizia para mim: Confie 100% só em mim e minha mãe", disse Bolsonaro.