O 1º Congresso do Movimento Brasil Livre (MBL) Rio Grande do Sul, realizado neste sábado (8), em Canoas, era cercado de expectativas por seus líderes por ser o primeiro desde as manifestações de 26 de maio em diferentes cidades brasileiras em apoio a Jair Bolsonaro. O MBL optou por não participar das manifestações. Antes do evento, um dos fundadores, Renan Santos, já esperava uma plateia questionadora, salientando que "gaúcho é um bicho briguento":
— Não é porque setores importantes mesmo de seguidores nossos discordam da postura que a gente vai envergar. A gente considera esse tipo de prática que foi desenhada por setores do governo federal de pressão sobre o Legislativo algo errado. A gente fez essa reflexão e os núcleos todos concordaram. E outra coisa: o MBL não é a UNE do Lula. A gente não vai ser a UNE do Bolsonaro. A gente é independente. A gente topa conversar, trocar ideia, mas não vai mudar a postura.
No primeiro painel do evento, para uma plateia de aproximadamente cem pessoas, a expectativa se confirmou. Na palestra chamada MBL na Estrada, após uma breve explanação do deputado estadual Arthur do Val (DEM-SP), conhecido pelo canal no YouTube Mamãefalei as principais estrelas do movimento se acomodaram em poltronas e abriram para perguntas da plateia. Participaram, além de Renan e Arthur, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), o vereador paulistano Fernando Holliday (DEM-SP), o advogado Rubinho Nunes, o coordenador do MBL no Estado, Matheus Lima, e o publicitário e cantor Pedro D'eyrot.
Tatiana Zart, 52 anos, uma das 11 mulheres na plateia, fez a primeira pergunta sobre o dia 26. Ela, que participou dos protestos por apoiar a "pauta liberal em questão" pediu uma posição do movimento sobre "como foi bom". Renan respondeu explicando que as manifestações, quando foram articuladas, pregavam intervenção militar e invasão do Congresso Nacional.
Partido bancando caminhão em manifestação a favor do presidente. Ora, essa manifestação é verde amarela ou é vermelha?
RENAN SANTOS
fundador do MBL, em crítica a participação do PSL no dia 26
— Quando fomos instados a falar sobre as manifestações, a ordem do dia era essa. E havia ligação entre as hashtags envolvidas e gente ligada ao Carlos Bolsonaro. Nos preocupa esse tipo de pauta ser tratado por essas pessoas. A notícia boa, que o Arhtur já citou em um vídeo, é que as pessoas que foram para a rua defender pautas republicanas, como as reformas, estão de parabéns. Se não ficou claro, eu parabenizo aqui — declarou Renan, listando ainda críticas à participação do PSL, partido do presidente, nos protestos: — Partido bancando caminhão em manifestação a favor do presidente. Ora, essa manifestação é verde amarela ou é vermelha?
Joel Schmidt, 52 anos, questionou diretamente Kataguiri sobre unidade do campo político da direita, criticando o uso de termos citados pelos próprios palestrantes, como "bolsominions", "bolsolavistas", "ativistas de sofá" para se referir aos apoiadores do governo. Kataguiri respondeu que a divergência vem de bastante tempo, citando as críticas de Olavo de Carvalho desde a marcha do MBL até Brasília pelo impeachment de Dilma. Na opinião do guru, o ato teria sido uma submissão à classe política.
— Inclusive, os termos utilizados do lado de lá são bastante piores. Não chega a um centésimo do tipo de ofensa que a gente recebe. Chamar o cara de "Fernando Olha Eu Dei", "Kim Katapiroca", aí sim são ataques que nada têm a ver com linha de pensamento. Eu concordo que nesse momento o presidente da República teria total condição, se tivesse um discurso mais conciliador, de fazer com que o país disparasse — opinou o deputado.
O painel se encerrou com o MBL celebrando o número de braços para cima quando perguntou quem, da plateia, estaria disposto a coletar assinaturas para a formação de um partido do MBL. À tarde, o evento prosseguiria no Canoas Parque Hotel. O evento custou R$ 50 para a plateia, com ingressos especiais para café da manhã (R$ 250) ou jantar (R$ 300) que incluiam encontros e discussões com os líderes do movimento.