Vereadores e funcionários das 497 Câmaras Municipais do Estado gastaram, no ano passado, R$ 15 milhões em diárias. Revelado nesta segunda-feira (13) pelo RBS Notícias, na RBS TV, o levantamento do Ministério Público de Contas (MPC) detalhe o ranking das despesas.
Bom Jesus é o município com maior desembolso tanto em números absolutos quanto percentuais: o Legislativo consumiu em diárias R$ 382,1 mil, o equivalente a 19% do orçamento do ano passado. Quando são somados gastos com passagens aéreas, ressarcimento de combustível e inscrições para cursos, esse desembolso chega a R$ 576 mil (29% de todas as despesas de 2018).
O estudo coordenado pelo procurador-geral do MPC, Geraldo Da Camino, divide o ranking de acordo com critérios como orçamento total e gastos com publicidade e diárias, detalhando despesas por habitante comparadas com indicadores sociais. No total, as Câmaras municipais do RS tiveram, juntas, orçamento de R$ 981,8 milhões no ano passado.
Em Bom Jesus, a Câmara liderou as despesas com viagens entre todas as cidades gaúchas. Muitas das atividades que contaram com representantes do Legislativo da cidade ocorreram em cidades turísticas, como Florianópolis e Foz do Iguaçu (PR).
Na cidade da Serra, o campeão em gastos é o vereador Rafael Silveira (PP), que só em diárias e combustível consumiu R$ 97 mil. Ele não quis conceder entrevista. Em segundo lugar vem o atual presidente da Câmara, Miler Alves Wolff, o Miler Fogão (MDB), com R$ 67 mil em gastos.
— Em Foz do Iguaçu, o senhor fez o curso para saber qual a atribuição dos vereadores. O senhor não sabia? — perguntou o repórter.
— Como te disse... As coisas (legislações) estão sempre mudando — respondeu Miler.
Vereador gastou em curso de coaching, mas não lembra
A cidade de Santana do Livramento teve o segundo maior desembolso em valores absolutos, mas o valor de R$ 243 mil equivale a 2,85% do orçamento do Legislativo municipal.
Nesta cidade, o vereador Carlos Nilo (PP) teve R$ 12 mil em despesas, mas nem sequer lembra o que aprendeu em um dos cursos dos quais participou, quando teve aulas sobre um processo de aprendizado conhecido por coaching.
— Coaching eu não tô lembrado do que é — ele disse quando perguntando sobre o significado da palavra.
— Mas o senhor não participou desse curso? — questionou o repórter
— Sim, sim — respondeu Nilo.
— Mas ai o senhor não lembra? — insistiu o jornalista.
— É difícil tu me perguntar algo do ano passado, né — respondeu o vereador.
Para Da Camino, somente o controle dos gastos pela população pode evitar distorções e gastos abusivos:
— A discrepância se deve justamente ao déficit de participação popular. Aquela comunidade em que os cidadãos participam, fiscalizam, definem suas prioridades, são as que têm os gastos alocados nas áreas prioritárias, como saúde e educação.
Em 32 Câmaras do Estado não houve desembolso com diárias no ano passado.