BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em reunião ministerial na manhã desta terça-feira (21), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) pediu aos integrantes de sua equipe que não compareçam às manifestações em apoio ao governo marcadas para o próximo domingo (26). O próprio presidente desistiu de participar dos atos.
Segundo o porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, o presidente deu uma orientação genérica aos ministros durante a reunião. "Por tratar-se de uma manifestação livre e espontânea, [o presidente] não quer associá-la ao governo", disse o porta-voz à reportagem , ao ser questionado sobre os motivos da orientação.
Segundo relatos feitos reservadamente à reportagem, a recomendação de Bolsonaro aos ministros foi feita depois que Abraham Weintraub (Educação) consultou o presidente sobre o tema.
Na reunião, o presidente pediu ainda que a equipe ministerial não faça convocações em suas redes sociais e se distancie por completo do tema, que, segundo ele, não tem e não deve ter relação com o governo.
A orientação é para que os auxiliares presidenciais se dissociem do movimento e evitem também comentá-lo em público. Para evitar qualquer associação, Bolsonaro deve se resguardar no domingo no Palácio do Alvorada.
A presença do presidente nas manifestações era defendida pelo núcleo ideológico do Palácio do Planalto, formado por seguidores do escritor Olavo de Carvalho. Para eles, a participação do presidente seria um gesto importante a seus apoiadores.
O grupo moderado, que é composto pelos militares, no entanto, considerava a ida de Bolsonaro um erro. Para eles, o presidente sofreria um desgaste independentemente da adesão do público.
Uma das principais bandeiras das manifestações de domingo se esvaziou. Além da ausência de Bolsonaro e de seus ministros, a pressão para o Congresso votar a medida provisória que reduz de 29 para 22 o número de ministérios perdeu força nesta terça-feira.
Isso porque líderes do chamado centrão fecharam um acordo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para votar a MP ainda nesta semana. A medida provisória foi editada pelo presidente no início de seu mandato e pode expirar no dia 3 de junho, caso não seja votada até lá nos plenários da Câmara e do Senado.
Integrantes do próprio PSL, partido do presidente, reduziram a importância dos atos de domingo.
Nesta segunda (20), o presidente nacional do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), disse não ver sentido nas manifestações. "[Bolsonaro] não precisa [que as pessoas façam manifestação] porque ele foi institucionalmente e democraticamente alçado ao poder. Não cometeu nenhum crime de improbidade, não cometeu nenhum crime administrativo. Tem uma rede social imensa."
Com movimentos de direita rachados, grupos que organizam as manifestações passaram a adaptar o discurso para excluir motes radicais e tentar ampliar a adesão de apoiadores do governo. Pautas como o fechamento do Congresso e do STF (Supremo Tribunal Federal) ficaram em segundo plano.
As bandeiras anunciadas pelos mobilizadores se desdobraram tanto nas últimas horas que resultaram em um bloco difuso. As convocações falam também em demonstrar apoio à reforma da Previdência e ao pacote anticrime do ministro Sergio Moro, pedir a continuidade da Operação Lava Jato e defender a obrigação do voto nominal como estratégia para constranger parlamentares em projetos polêmicos.
Na linha de frente da mobilização estão grupos como Nas Ruas, Ativistas Independentes, Direita São Paulo e Patriotas Lobo Brasil. O Clube Militar também se engajou na causa, em nome das "reformas necessárias à governabilidade".
Movimentos com estrutura mais robusta, como MBL (Movimento Brasil Livre) e VPR (Vem pra Rua), que atuaram como indutores dos protestos pela queda de Dilma Rousseff (PT), evitaram aderir à iniciativa.
A principal justificativa para pularem fora foi a de existir radicalismo nas propostas contra Legislativo e STF.