Nesta sexta-feira (26), o ex-presidente Lula concedeu uma entrevista exclusiva aos jornais Folha de S. Paulo e El País. Preso desde o dia 7 de abril de 2018, Lula foi condenado pelo caso do triplex do Guarujá e teve, no dia 23, sua pena reduzida para oito anos e 10 meses de prisão. Em decisão divulgada na semana passada, Dias Toffoli autorizou que Lula desse entrevista à jornalista Mônica Bergamo, da Folha de S. Paulo. Outros jornalistas foram permitidos pelo delegado Luciano Flores de Lima.
Confira as principais frases da entrevista:
— Muita gente achava que eu tinha que ir para uma embaixada, fugir. Eu tomei como decisão ficar aqui. Eu tenho tanta obsessão em desmascarar o Moro, Dallagnol e sua turma, os que me condenaram. Fico preso cem anos. Mas eu não trocarei a minha dignidade pela minha liberdade.
Fico preso cem anos. Mas eu não trocarei a minha dignidade pela minha liberdade.
EX-PRESIDENTE LULA
Contando sobre a decisão de se entregar, ele diz querer provar a sua inocência:
— Eu quero provar a farsa montada. Montada aqui dentro, no Departamento de Justiça dos Estados Unidos, com depoimento dos procuradores, com filme gravado, e agora mais agravado com a criação da Fundação Criança Esperança do Dallagnol, criando 2 bilhões e meio de reais para criar uma fundação para ele. Fora 6 milhões e 800 mil da Odebrecht e não sei quantas outras coisas.
Ele afirma não guardar mágoas de quem o condenou.
— Você sabe que eu não tenho ódio. Na minha idade, quando a gente guarda mágoa, a gente morre antes. Como quero ir aos 120 anos, vou trabalhar muito para provar a minha inocência. Por isso vim para cá com tranquilidade.
— Não vou esperar que venham até mim, quero ir até lá. Quero ficar perto do Moro (em Curitiba). Tenho que provar minha inocência. Eu durmo todo dia com a minha consciência tranquila. Sei que o Moro não dorme, o Dallagnol não dorme.
O ex-presidente afirma que não irá se entregar e cita as suas conquistas como presidente:
—Sinceramente. Quem tem 73 anos de idade, que construiu a vida que eu construí nesse país, que estabeleceu as relações que eu estabeleci, que fez um governo como eu fiz, que recuperou o orgulho e a autoestima do povo brasileiro como eu e você fizemos no meu governo? Não vou me entregar. Sou um pernambucano teimoso. Quem nasceu em Pernambuco e não morreu de fome até os cinco anos de idade não se curva a mais nada.
Durante a entrevista, ele explica sobre querer ficar na prisão para provar e lutar pela sua inocência.
— Você pensa que eu não adoraria estar em casa? Adoraria estar em casa com a minha mulher, meu filho, meus netos, meus companheiros. Mas não faço nenhuma questão. Porque eu quero sair daqui com a cabeça erguida como entrei: inocente. E só posso fazer isso se tiver coragem e lutar por isso.
Ainda falando sobre a inocência, o ex-presidente diz querer que as provas do crime sejam julgadas e que o Ministro da Justiça, Sergio Moro, sabe de sua inocência.
O Moro sabe que sou inocente. O Dallagnol mentiu ao meu respeito
LULA
— Só quero que as pessoas, pelo amor de Deus, julguem em função das provas. Eu tenho certeza. O Moro tem certeza. Se as pessoas não confessarem agora, na hora da extrema-unção vão confessar. O Moro sabe que sou inocente. O Dallagnol mentiu ao meu respeito. Tô aqui para procurar justiça. Mas to muito mais preocupado com o que está acontecendo com o povo brasileiro. Porque eu posso brigar, o povo brasileiro não.
O jornalista do El País, Florestan Fernandes Jr., pergunta para Lula com o que ele fica mais preocupado estando preso. Se são os filhos, a família. Ele ainda comenta sobre a dificuldade da família do ex-presidente para se realocar na sociedade. Lula começa falando que todos estão mal por ele estar com os bens bloqueados, e que espera que, após o processo que ganharam em São Paulo, eles sejam desbloqueados para que os "filhos possam sobreviver".
— Eu tenho preocupação com meus filhos. Mas fico preocupado é com a situação do Brasil. Sonhei grande e passei a ser um presidente muito respeitado. Aqui na América do Sul a gente era referência. Sonhava em criar um bloco na América do Sul para a gente ter força nas negociações com a União Europeia, China, Estados Unidos.
Sobre a época em que foi presidente, ele cita que era chamado para todas as reuniões do G8 e que o Brasil era muito importante no G20.
— Tudo isso desmanchou. Agora vejo que o prefeito de Nova York não quer fazer um jantar com o presidente do Brasil. O dono do restaurante se recusa a receber. A que ponto nós chegamos? Que 'avacalhação'!.