Em convenção estadual neste sábado (6), em Porto Alegre, o MDB reconduziu o deputado federal Alceu Moreira à presidência do diretório gaúcho da sigla. A chapa liderada por ele não teve concorrente interno e, na eleição simbólica, foram 405 votos sim, contra 12 não. O MDB gaúcho ainda aprovou por aclamação uma carta em que pede renovação e avanço, mas sem adotar tom veemente contra os antigos caciques da legenda.
Para o novo ciclo, o parlamentar prega um processo de avaliação interna e transformação do MDB, que teve algumas de suas figuras mais relevantes no plano nacional envolvidas em escândalos de corrupção, o que ficou latente com as recentes prisões do ex-presidente Michel Temer e do ex-ministro Moreira Franco — ambos soltos atualmente por habeas corpus posterior.
— O partido precisa fazer a autocrítica, criar contratos de integridade, trabalhar a ideia do compliance. Precisaremos de humildade e de grandeza para fazer isso, reconhecer nossos erros — diz o presidente.
Membro da executiva nacional, o deputado estadual Gabriel Souza diz que os movimentos de autoavaliação podem levar a gestos simbólicos diante da população.
— Estamos propondo ao MDB nacional uma reflexão pelos erros coletivos que cometemos na esfera partidária e pelos erros individuais de alguns na questão moral. Ao contrário do PT, que acusa os acusadores, e do PSDB, que finge não ter nada acontecendo, achamos que o MDB deve fazer a autocrítica que resulte, talvez, até num pedido de desculpas aos brasileiros e à nossa militância — afirmou Souza.
Alceu também destacou que a tecnologia e as redes sociais mudaram a relação e as expectativas da sociedade diante da política, o que deve ser acompanhado e compreendido pelas lideranças. Para ele, em tempos de radicalismo político, o MDB deve se posicionar como conciliador.
— Temos de nos constituir como partido de centro, construir consensos, convergências, não podemos apenas ver defeito nos outros — disse, procurando colocar a sigla como alternativa aos polos representados hoje pelo lulismo e pelo bolsonarismo.
Para Alceu, a eleição de 2018 acendeu o alerta entre velhos caciques emedebistas. A sigla viu despencar o tamanho da bancada federal e, com isso, se abriram portas para um processo de reorganização do diretório nacional do MDB, desgastado por conta de episódios de corrupção, condenações, denúncias e suspeitas que atingiram não apenas Temer, mas outros nomes fortes que há anos lideram a condução partidária, como Romero Jucá, Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima e Henrique Eduardo Alves. Renan Calheiros segue como senador, recém-reeleito, mas também perdeu força interna.
— O partido precisa se reoxigenar, há um desejo de busca por novas lideranças. Estamos fazendo aqui esse caminho. Santa Catarina, São Paulo, Pernambuco, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul também estão fazendo. Em junho ou julho, teremos o caldo para indicar como será a nova composição — afirmou Alceu, mirando a sucessão do diretório nacional, prevista para ocorrer em setembro.
Na nova formatação da executiva estadual do MDB, liderada pelo presidente reeleito, ocorreram poucas alterações nas principais funções. Uma das únicas ausências é a do deputado estadual Sebastião Melo, que deixa de ser 1º vice-presidente. Recentemente, Melo teve atritos com correligionários por ser contrário ao ingresso do partido nas bases aliadas dos governos dos tucanos Nelson Marchezan, na prefeitura de Porto Alegre, e de Eduardo Leite, no governo estadual.
— Não me negarei a ajudar, mas foi uma opção minha, quero cuidar do mandato na Assembleia, ter posição de independência em relação ao Eduardo. Estar na executiva, neste momento, não seria contributivo. Já tive muito tempo de gestão partidária e, agora, prefiro estar mais solto para ter liberdade nas minhas posições políticas, que são conhecidas — disse Melo.