No encontro entre os símbolos das chamadas nova e velha política, o rótulo foi desfeito, depois de criar uma crise entre governo e Congresso. O presidente Jair Bolsonaro e o ex-senador Romero Jucá (MDB) se sentaram frente a frente e discutiram a questão.
— Ele terminou concordando que o que vale é a boa política e, portanto, tachar de velha ou nova é um desserviço — disse Jucá, presidente nacional do MDB. — Ele falou que entende que o que existe agora é a boa política.
A reunião entre os dois fechou a rodada de conversas de Bolsonaro com dirigentes partidários nesta quinta-feira (5), no Palácio do Planalto. Antes ele havia se encontrado com os presidentes do PRB, PSD, PSDB, DEM e PP.
O rótulo de velha política empregado por Bolsonaro sobre a forma tradicional de negociação irritou deputados e senadores e contaminou o ambiente contra o governo no Congresso. Bolsonaro agora tenta recomeçar a relação com o Legislativo.
Articulador político de destaque desde o governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), sempre compondo com o governo da vez, Jucá afirmou que "essa questão de ser ou não ser base é uma questão passada".
Segundo ele, "a discussão agora é temática, é por projeto, é por lei, é por dispositivos, é por posições que possam melhorar o povo brasileiro".
— O MDB não quer ser base, o MDB quer ter uma agenda, nós queremos mais, queremos ter o resultado do trabalho conjunto entre MDB e o governo — disse. — Ser base é ficar numa posição de lado, na minha avaliação, estamos um passo além.
Bolsonaro atacou o MDB de Jucá e Temer desde que começou a trabalhar para se viabilizar candidato à Presidência, chamando-os de corruptos.
— Temer já roubou muita coisa aqui, mas o meu discurso não vai roubar, não — afirmou, em fevereiro de 2018.
Em abril de 2019, a abordagem foi amistosa.
— O presidente foi extremamente simpático — afirmou Jucá. — Tivemos uma conversa verdadeira. Dissemos aquilo que entendíamos que devíamos falar. Claro, com respeito.
O emedebista lembrou que a reforma da Previdência "foi um tema trazido pelo MDB no governo Michel Temer" e, por isso, continuará sendo defendida pelo partido.
— Somos favoráveis, mas questões específicas serão discutidas — afirmou.
— O Benefício de Prestação Continuada não concordamos da forma que está. A aposentadoria rural não concordamos da forma que está. A questão dos professores queremos discutir. A questão da capitalização, o modelo não está claro. Não é possível pedir capitalização de quem ganha um salário mínimo e meio, dois salários mínimos. Isso deve ser discutido com mais profundidade — explicou.
O MDB não discutiu fechamento de questão a favor da reforma (o que obriga seus congressistas a votarem a favor), porque dependerá do texto final e do debate, ponderou Jucá. O ex-senador afirmou que ainda dá tempo de o governo arrumar sua articulação.
— O governo não pode ser condenado por cometer equívocos, mas tem que ter humildade e rapidez para corrigi-los. Eu tenho certeza de que o governo quer fazer isso para ter um bom resultado — disse. — É um processo de aprendizagem, de construção, que está em andamento.
Jucá encerrou dizendo que o partido "está disposto a conversar em qualquer fórum, em um conselho, em mesa redonda, no sofá do presidente. O nosso compromisso é com o Brasil".