Em encontro com jornalistas e ministros no Palácio do Planalto na manhã desta sexta-feira (5), o presidente Jair Bolsonaro abordou diversos temas que dominaram os primeiros três meses de seu governo. Estiveram em pauta assuntos como a possível saída do ministro da Educação, o horário de verão, as medidas dos primeiros 100 dias à frente da nação, as suspeitas que recaem sobre o ministro do Turismo, a relação com Olavo de Carvalho e a possível troca de ministros.
Participaram da reunião com editores-chefes de redação de jornais, TVs e portais os ministros do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e da Secretaria-Geral, general Floriano Peixoto.
Veja abaixo os principais tópicos abordados por Bolsonaro:
Saída de Velez do MEC
Envolto em polêmicas, o ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, pode deixar a chefia da pasta, segundo Jair Bolsonaro. Perguntado se estava satisfeito com o desempenho de Velez, o presidente sorriu, ficou um pouco em silêncio e respondeu de forma rápida:
— Nós vamos resolver até segunda a situação da Educação. Está bastante claro que não esta dando certo. Segunda-feira é o dia do "fico" ou do "não fico" — disse.
Reforma da Previdência
Sobre a reforma da Previdência, Bolsonaro admitiu que a PEC enviada ao Congresso pode sofrer alterações para seguir adiante. Ele reconheceu que o regime de capitalização, cogitada pela equipe econômica mas não prevista no texto em análise na Câmara, pode ser abandonado durante a tramitação da proposta.
— A Câmara vai decidir. Eu gostaria que fosse aprovada a PEC como ela foi enviada, mas a Câmara vai decidir. Alguma coisa pode cair.
Os cem dias de governo
Para o grupo governista, a marca da gestão é transparência e humildade.
— São 35 ações desenvolvidas, a maioria em plena execução, além de 60 medidas transversais. É um jeito simples de tratar as questões — pontuou Onyx.
A redução dos cargos de confiança também foi lembrada como uma iniciativa positiva.
— Pela primeira vez usamos metodologia da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) (usada para avaliar a qualidade e eficácia dos sistemas de compras públicas). Cortamos 21 mil dos 119 mil cargos de confiança existentes — destacou o ministro da Casa Civil, acrescentou que em breve serão apresentadas as primeiras metas de digitalização do governo.
Jair Bolsonaro reforçou.
— Transparência é a marca dos cem primeiros dias. E a grande marca é a escolha dos ministros por critérios técnicos.
E complementou:
— A maioria dos nossos ministros não tem habilidade política.
— Experiência, presidente, não tem experiência política — interveio Onyx.
— Sim, experiência, quero dizer - corrigiu Bolsonaro.
Mudança na Secretaria de Comunicação
Bolsonaro também aproveitou a reunião para anunciar o novo chefe da Secretaria de Comunicação (Secom).
— Temos mudança na Secom. O nome da pessoa que vamos colocar é Fábio... é um nome meio esquisito.
— Fábio Wajngarten — complementou Onyx.
O publicitário assume a chefia do órgão em substituição a Flávio Amorim, que é próximo de dois filhos do presidente — o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), com quem atuava no gabinete. A alteração foi elogiada pelo escritor Olavo de Carvalho, guru da nova direita brasileira e influente na família Bolsonaro.
BNDES
O presidente aproveitou o gancho sobre a clareza nos gastos para falar do Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES).
— Queremos transparência total no BNDES. O que foi feito no passado deve tornar-se público. Cuba e Venezuela nos devem um pouco mais de R$ 2 bilhões.
"Caneladas"
O ministro da Casa Civil também ressaltou que o presidente se desculpou de "caneladas que deu aqui ou acolá". Ao ser questionados quais seriam elas, Bolsonaro riu e respondeu.
— As polêmicas LGBT. E eu já falei em fechar o Congresso — disse, em tom de arrependimento, acrescentando: — Mas vou me arrepender porque fiz xixi na cama até os 5, 6 anos. Escapou, pô!
Ao final, entre um grupo menor de jornalistas, presidente disse que não publicaria de novo o polêmico vídeo da golden shower.
Geração de empregos
Quando o assunto foi desemprego, o chefe da nação voltou a criticar a metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
— O IBGE deveria fazer uma consulta mais simplificada, é uma crítica constritiva. Mas eles dizem que quase todo mundo usa a mesma metodologia — ponderou Bolsonaro.
Articulação política
Também foi mencionada uma reunião com líderes de partido, ocorrida na quinta-feira (4).
— Nós tivemos uma reunião que foi muito produtiva. O Geraldo Alckmin, que já nos deu umas agulhadas, agulhadas de crochê, participou, o Romero Jucá... Quem olhava podia imaginar que tinha alguma coisa sendo negociada, mas não havia nada. Não tem toma lá dá cá. Ninguém pode negar o toma lá dá cá (que havia no Brasil). Eu via isso daí no Congresso. Mas acabou — garantiu Bolsonaro.
— A imprensa criticava o toma lá dá cá (nas relações políticas com o Congresso). Agora nós temos uma oportunidade para mudar as coisas e a imprensa segue criticando - acrescentou o general Heleno.
Na quarta-feira (3), o vice-presidente, Hamilton Mourão, chegou a dizer que governo pode oferecer aos partidos políticos cargos em órgãos federais nos Estados ou nos ministérios para manter sua base aliada no Congresso Nacional. Ao lembrá-la, Bolsonaro falou:
— No dia anterior o vice (Hamilton Mourão) falou em cargos e eu matei no peito. Engoli. Mas ninguém falou sobre isso na reunião.
Olavo de Carvalho x militares
Sobre a influência do escritor Olavo de Carvalho e suas críticas aos militares que integram o governo, Bolsonaro vaticinou.
— Não existe "olavetes" contra militares.
Ainda sobre Forças Armadas em posições estratégicas da administração pública federal, o general Heleno manifestou-se:
— Quem passa um dia no Palácio vai perceber que não existe ala militar. É uma invenção. Moro e Onyx não são militares. Colocam o Tarcísio de Freitas (ministro da Infraestrutura) nessa conta, mas ele não sabe nem bater continência (risos).
Horário de verão
Tema em voga recentemente, após pedir estudos sobre a viabilidade de encerrar o horário de verão, Bolsonaro disse que deve ter uma definição em breve.
— A minha ideia é anunciar que não teremos horário de verão. Está quase batido o martelo.
Investigação no Ministério do Turismo
Bolsonaro também comentou a investigação da Polícia Federal que vê elementos de participação do ministro do Turimo, Marcelo Álvaro Antônio, no esquema de candidaturas de laranjas do PSL, além da possibilidade de lavagem de dinheiro.
— O Turismo está com problemas. Estamos esperando relatório da PF para tomarmos uma posição.
Dança das cadeiras
Em um momento descontraído, Sergio Moro foi indagado se gostaria de estar no lugar do presidente. Ele sorriu e respondeu:
— Não. É um tremendo trabalho. E precisa ser um pouco louco (risos) para estar nesta função.