BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Sob críticas por ter se ausentado até agora da articulação política, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) pretende acenar a dirigentes partidários, em audiências nesta quarta-feira (3), que passará a partir de agora a ter um comportamento mais presente no diálogo com o Poder Legislativo.
A ideia é que, durante as reuniões, ele afirme que o Palácio do Planalto está aberto a receber demandas e sugestões das bancadas federais e diga que tentará abrir mais a sua agenda presidencial para reuniões e encontros com líderes partidários.
Nos encontros, de acordo com assessores presidenciais, ele pedirá apoio a pautas governistas, como a reforma da Previdência, e deve sinalizar de maneira sutil interesse de que as siglas façam parte da base aliada, que o governo federal ainda não conseguiu compor apesar de já ter três meses de duração.
Nesta quinta-feira (5), Bolsonaro terá encontros separados com os presidentes do PSDB, MDB, DEM, PP, PSD e PRB. A proposta é que a série de reuniões tenha continuidade na terça-feira (9) e na quarta-feira (10), quando receberá os dirigentes do PSL, PR, PROS, Podemos e Solidariedade.
As reuniões com os presidentes, apesar de terem sido anunciadas pelo ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil), foram inicialmente mantidas fora da agenda oficial do presidente na noite de quarta-feira (3), o que causou incômodo entre dirigentes das legendas. Após reação negativa deles, o governo registrou as audiências.
Até a semana passada, o presidente resistia a participar da articulação política, em nome da chamada "nova política". Após protagonizar desentendimento com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), porém, foi cobrado pelos núcleos militar e setor empresarial a ter uma presença mais ativa nas negociações.
Nas palavras de um auxiliar presidencial, o propósito dos encontros é tentar "iniciar uma relação institucional" com os partidos políticos e quebrar uma imagem construída pelo presidente de "ojeriza à política tradicional", o que acabou afastando legendas de sua administração.
Nesta quarta-feira (3), o vice-presidente Hamilton Mourão defendeu que Bolsonaro mostre com clareza aos dirigentes das siglas os objetivos do Palácio do Planalto e, caso eles concordem com as iniciativas, convidá-los a apoiarem o governo nas votações prioritárias.
"Em um segundo passo, o presidente pode decidir por oferecer algum tipo de cargo nos estados ou aqui na área central do governo federal", disse.
As audiências de Bolsonaro com dirigentes de siglas marcam uma mudança no discurso do presidente, que inicialmente havia determinado que o Palácio do Planalto só negociaria com frentes parlamentares, não com bancadas partidárias.
A falta de uma coalizão parlamenta levou o governo a sofrer derrotas legislativas. Com o fracasso da estratégia, a Casa Civil iniciou uma aproximação com bancadas partidárias, o que inclui indicações para cargos de segundo e terceiro escalões e liberação de emendas parlamentares.