BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), disse, em meio à crise entre o Congresso e o Palácio do Planalto, que a fórmula usada na política em mandatos anteriores não deu certo e que Jair Bolsonaro não abrirá mão desse discurso.
Ele afirmou à reportagem que o governo precisa ter uma forma alternativa de se relacionar com os parlamentares e que tem ajudado a pensar nisso, mas que o assunto é complexo.
Entre sexta (22) e sábado (23), o presidente da República e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, trocaram farpas sobre a articulação política da reforma da Previdência.
O líder do governo disse que trabalha para apaziguar a crise, mas indicou que não vai haver recuo de Bolsonaro sobre a forma de relacionamento com o Congresso.
Major Vítor Hugo acirrou a tensão neste domingo (24), quando enviou mensagens a um grupo de Whatsapp da bancada do PSL criticando à velha política, com citação a Maia.
O grupo do presidente da Câmara entendeu como agressão. Antes das mensagens, o líder do governo havia visitado Bolsonaro em sua casa, no Palácio da Alvorada.
As postagens fazem referência a supostas negociações de cargos nos governos Michel Temer (MDB) e Dilma Rousseff (PT) em troca do apoio do Congresso. A primeira mensagem resgata reportagem do jornal O Globo de novembro de 2017, cujo título é "Para aprovar mudanças na Previdência, Temer autoriza Maia a negociar cargos". A segunda é uma charge que ironiza o diálogo do governo Dilma com o Congresso. Na imagem, a ex-presidente leva ao Congresso um pacote de cargos para garantir as conversas.
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Pergunta - O sr. enviou críticas a Maia em um grupo de Whatsapp do PSL neste domingo?
Major Vitor Hugo - Não fiz crítica alguma ao Rodrigo [Maia]. O que eu fiz foi o seguinte: eu reforcei a posição do presidente da República, a disposição dele de trabalhar de uma maneira diferente. Eu como líder tenho obrigação de trabalhar alinhado com a vontade do presidente.
P - Mas o que o sr. quis dizer com as mensagens?
MVH - Fui na casa dele [Bolsonaro] também para ajudar a traçar a estratégia para apaziguar [a crise]. Eu venho tentando aproximar os Poderes, desde que assumi, na verdade. Minha intenção não foi atacar o Rodrigo Maia, até porque venho fazendo movimentos para me aproximar dele.
P - As mensagens não podem ser compreendidas num sentido diferente de apaziguar?
MVH - Entendo a importância do Rodrigo Maia hoje para a aprovação da nova Previdência e do pacote de lei anticrime. Compreendo claramente o fato de ele ter sido eleito [para a presidência da Câmara] com 334 votos. Só realmente, nesse embate, nesse clima tenso, embora minha atitude seja de apaziguamento, minha posição sempre vai ser ao lado do presidente da República.
P - O sr. mandou imagens criticando à chamada velha política. Qual era a intenção?
MVH - Era só para reforçar esse aspecto, de que é algo que o presidente não gostaria. Que ele editou até um decreto [que estabelece exigências para a ocupação de cargos de confiança no governo], para diminuir a possibilidade de corrupção. Ele não vai abrir mão disso. É uma bandeira do presidente.
A ideia de postar isso no grupo foi dizer que essa fórmula do passado não deu certo, que precisamos avançar. O pedido de apoio ao PSL não é para que se voltem contra Rodrigo Maia. O nome do Maia ali foi circunstancial, na verdade, porque ele era o presidente da Câmara na época do [Michel] Temer. Mas a disposição do presidente anterior de trabalhar dessa maneira é tudo o que o presidente atual não quer.
P - As mensagens foram interpretadas como ataques pelo grupo de Rodrigo Maia. O sr. não concorda que pode haver essa interpretação?
MVH - A liderança do governo trabalha para aproximar os dois. A minha aproximação com o presidente é pressuposto da função, com o Maia está sendo construída, não fui escolhido por ele. Tenho me esforçado para fazer esse enlace. Mas sem abrir mão disso. Eu não posso abrir mão. Primeiro porque eu acredito, e eu fui falar com o presidente também para conversar sobre outras maneiras que o Executivo tem para se aproximar do Congresso, a gente precisa ter uma proposta alternativa de relacionamento. O Parlamento tinha uma forma de relacionamento até agora.
P - O sr. ter reforçado críticas à chamada velha política não acirra a crise?
MVH - Não fiz referência a isso [velha política]. Em nenhum momento. Eu escrevi nas mensagens, e o que eu disse é que a nova política são todos os deputados eleitos. Todos fazem parte, potencialmente. O mesmo clima que elegeu o presidente Bolsonaro foi o que me elegeu e que elegeu os demais deputados. A nova política é composta por todos.
O que cada um vai fazer é a maneira que vai escolher para interagir com o Executivo. Fiz questão de conversar com os ministros para propor uma forma alternativa para relacionamento, de abertura para ouvir os deputados, as sugestões, as demandas, convite para ir com os ministros nas bases eleitorais, para permitir que os deputados se manifestem, possibilidade de indicação de políticas públicas direcionadas para as suas regiões, um feedback das sugestões recebidas. Eu também estou tentando apresentar uma alternativa à maneira anterior de se fazer política. Mas é um trabalho complexo.