Experiente, no sexto mandato consecutivo de deputado estadual, Luís Augusto Lara (PTB) vai liderar, a partir desta quinta-feira (31), uma Assembleia Legislativa renovada, com 17 partidos e 28 novos colegas. Meticuloso em cada passo que dá, o bageense de 50 anos vem estudando o perfil dos eleitos para encaixar suas pretensões à frente da Casa — já pressupõe, por exemplo, que o diálogo sobre concessões e parcerias público-privada, além de privatizações, ganhará força nos próximos quatro anos.
Além de ser íntimo do funcionamento da Assembleia, Lara conhece os meandros do Executivo e da política partidária. Começou na vida pública em 1992, como vereador pelo PDS em Bagé, função que intercalava com a de empresário do ramo de entretenimento — era dono de boate e organizava festas em Bagé, Buenos Aires, Montevidéu e na praia do Cassino.
Ganhou notoriedade quando defendeu a diminuição dos salários na administração municipal ao mesmo tempo em que resolveu doar seus salários para instituições de caridade. Reeleito para a Câmara em 1996 pelo PTB,candidatou-se a deputado estadual dois anos depois, a convite de Sérgio Zambiasi. Foi na carona da votação do radialista como deputado que Lara entrou para a Assembleia com pouco mais de 15 mil votos, na penúltima cadeira do PTB.
— Fui a Bagé pessoalmente para convidar o Lara a se candidatar. Vi nele dinamismo, sensibilidade e facilidade de diálogo e de comunicação e isso nos encantou — conta o ex-senador.
Lara ocupou cargos em gestões ideologicamente distintas. Nos últimos anos, foi secretário nos governos Germano Rigotto (MDB), Yeda Crusius (PSDB) e Tarso Genro (PT). Na eleição de 2014, foi um dos articuladores da chapa de Eduardo Leite (PSDB), que deu a vaga de vice a Ranolfo Vieira Junior (PTB), que era pré-candidato ao Piratini até o meio de 2018.
— Passar por governos diferentes me ajudou a aceitar a diversidade e entender que o principal é a política de resultados, não é a política partidária. Sou do PTB, mas, como presidente, não posso colocar que o meu partido é o do vice-governador e que as coisas vão passar na Assembleia sem diálogo — disse o deputado, que não entrou para o governo de José Ivo Sartori por temer fama de fisiológico.
Da família Lara, Luís Augusto foi o primeiro a se aventurar na política e, como os planos deram certo, abriu caminho para os parentes. Filho de comerciantes e pequenos agricultores, foi o responsável por encorajar a candidatura do irmão mais novo, Divaldo (PTB), ex-vereador e hoje prefeito, e da mulher, Adriana Torres Lara (PTB), que foi vice-prefeita de Dom Pedrito. Dois sobrinhos, Augusto Lara (PDT) e Graziane Lara (PTB), estão entre os vereadores mais votados na eleição de 2016. Outra Adriana, irmã de Divaldo e Luís Augusto, foi vereadora e disputou a prefeitura de Bagé em 2012, e Suzete Lara, outra integrante do clã, foi conselheira tutelar. Embora tenha força política na cidade fronteiriça, hoje não passa pela cabeça do deputado estadual concorrer a prefeito, mas já lhe sonhou ser governador.
— Meu partido nunca teve essa disposição. Eu até tentei ir, fiz uma pré-campanha ao governo do Estado, mas o momento não era o adequado porque era Yeda na reeleição, Fogaça prefeito de Porto Alegre e o Tarso era super ministro. Aí, depois, em quarto nas pesquisas, estava o Beto Albuquerque e em quinto estava eu. A metade do partido estava no governo Fogaça, em Porto Alegre, e a outra metade no governo Yeda, então era um exército de um homem só — lembrou ele.
A marca da administração dos Lara em Bagé é o assistencialismo, caminho pelo qual se deu o fortalecimento da família no poder. Em dezembro, o Ministério Público o Ministério Público de Contas arquivaram expedientes investigativos sobre o contrato de aluguel de um imóvel, no centro de Porto Alegre, pela prefeitura de Bagé para a abertura de uma casa de passagem capaz de receber gratuitamente pacientes da região da Campanha que estão em busca de tratamento de saúde na Capital. O imóvel, que era do agora presidente do Tribunal de Contas do Estado, Iradir Pietroski, ex-deputado pelo PTB, foi alugado sem licitação. Um dos articuladores da inauguração da casa foi o próprio Luís Augusto Lara.
— Ele é um excelente articulador, é dinâmico, tem relacionamento muito fácil com os colegas e com sua comunidade. Ele é focados em compromisso com a comunidade mais carente mas, ao mesmo tempo, é focado no desenvolvimento da região — define o amigo Zambiasi.
Como chefe do poder Legislativo do Estado, Lara deseja concentrar esforços em eixos intitulados Social, de Desenvolvimento e Fiscal. Quer incentivar servidores públicos do alto escalão a doarem para o Funcriança parte do Imposto de Renda devido, para que o dinheiro fique no Rio Grande do Sul ajudando a financiar projetos voltados a crianças e adolescentes. Segundo Lara, seria possível destinar até R$ 400 milhões para o fundo, mas a meta seria repassar, até abril, pelo menos R$ 40 milhões.
Outra ideia é levar o slogan da Assembleia, a "casa dos grandes debates", ao pé da letra. Conhecedor da intenção de Eduardo Leite de encaminhar para apreciação dos deputados os editais para concessões de estradas, Lara pretende trazer ao Rio Grande do Sul técnicos capacitados para explicar, didaticamente, como funciona esse tipo de parceria. Dessa forma, o debate ficaria mais objetivo entre os parlamentares e, então, um projeto sem anomalias teria mais chances de ser aprovado pela Casa.
— Pouca gente se dá conta mas este ano é um dos mais importantes das últimas décadas, vai passar tudo pela Assembleia, é o ano de maior fragmentação de partidos e é o ano do maior número de reformas. Desde o governo Britto nunca houve tanta efervescência quanto haverá agora neste ano. Estou preparado para fazer o papel de mediador — conclui.
A posse de Lara como presidente da Assembleia respeita rodízio com os partidos das maiores bancadas eleitas. Ele fica no cargo até fevereiro de 2020. A cerimônia, que ocorre no mesmo evento de posse dos deputados eleitos em 2018, será às 14h desta quinta-feira, no plenário 20 de setembro.