A sequência de anúncios e recuos que marcaram a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro também dão o tom de seus primeiros dias de governo. Se antes da posse ele voltou atrás na ideia de fundir o Ministério do Meio Ambiente com o da Agricultura, em incorporar a Controladoria-Geral da União (CGU) ao Ministério da Justiça e em ter apenas 17 ministérios (hoje ele conta com 22), nos primeiros 10 dias de governo ele e sua equipe já anunciaram e recuaram em pelo menos 10 pontos. Confira:
1. Salário mínimo
O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, anunciou no dia 1º de janeiro que o novo chefe do Executivo só iria tomar as primeiras medidas a partir do dia seguinte. Horas depois, entretanto, Jair Bolsonaro assinou o decreto que reajustava o salário mínimo de R$ 954 para R$ 998.
2 e 3. IOF e Imposto de Renda
Na manhã do dia 4 de janeiro, o presidente Jair Bolsonaro anunciou o aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a redução de uma das faixas do Imposto de Renda. À tarde, o secretário da Fazenda, Marcos Cintra, desmentiu o presidente e o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, anunciou que Bolsonaro havia se equivocado ao dizer que teria assinado decreto com o aumento do IOF.
4. Base militar
Ainda durante a primeira semana de governo, Bolsonaro afirmou, em entrevista ao canal SBT, no dia 3 de janeiro, que pretendia instalar no Brasil uma base militar dos Estados Unidos, país com o qual vem tratando uma aproximação agressiva desde que foi eleito. A ideia agradou o secretário de Estado norte-americano Mike Pompeo, mas recebeu críticas dos comandos das Forças Armadas Brasileiras. Na última terça-feira (8), o chefe do gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo, Augusto Heleno, negou os planos.
5. Juros de Crédito Imobiliário
Na última segunda-feira (7), durante a cerimônia de posse dos novos titulares dos bancos públicos, em Brasília, o recém empossado presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, insinuou um aumento de juros ao afirmar que "quem é classe média tem de pagar mais". No dia seguinte, entretanto, ele negou que o banco vá aumentar os juros do crédito imobiliário para a classe média, e afirmou que sua declaração foi reproduzida de forma distorcida pelos veículos de imprensa.
6. Despetização
O início da semana também ficou marcado pelo recuo na decisão de exonerar em massa os servidores da Comissão de Ética Pública (CEP), vinculada à Presidência da República. A comissão, criada em 1999, serve para dar consulta e analisar o comportamento de agentes públicos. Nos primeiros dias do novo governo, o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, havia publicado uma portaria exonerando ou dispensando os funcionários, alegando que o objetivo era "despetizar" o governo. A medida, entretanto, paralisou o trabalho da CEP, que teve 16 dos seus 17 funcionários desligados. Na última segunda-feira (7), a Secretaria-Geral da Presidência da República afirmou que iria renomear todos os servidores.
7. Acordo Embraer e Boeing
Após ter demonstrado apoio durante a campanha, Jair Bolsonaro (PSL) criticou, no dia 4, alguns pontos do acordo entre a norte-americana Boeing e a brasileira Embraer já durante os primeiros dias de governo. Discutido e negociado há meses, o acordo prevê a criação de uma nova empresa de aviação comercial, com 80% da Boeing e 20% da Embraer, porém precisa de aprovação do governo. A fala de Bolsonaro fez as ações da empresa brasileira caírem 5% no mesmo dia. Porém, o ministro do GSI, general Augusto Heleno, afirmou nesta segunda-feira (7) que o governo não pensa em interromper o negócio entre as duas empresas.
8. Anúncio de metas
Outro vaivém envolvendo o chefe da Casa Civil é referente ao anúncio de medidas do novo governo. Durante a transição, no dia 27 de dezembro, Onyx Lorenzoni prometeu divulgar metas para os 100 primeiros dias da gestão, o que não aconteceu. Na terça-feira (8), o general Augusto Heleno, que comanda o GSI, desmentiu Onyx sobre a existência de um plano de anúncio das medidas prioritárias do governo.
9. Livros didáticos
Uma das mais recentes polêmicas do novo governo envolve o Ministério da Educação. Na última quarta-feira (9), Bolsonaro anulou mudanças nos critérios de avaliação dos livros didáticos, pouco depois de as mesmas terem sido divulgadas pela mídia. Tinham sido retirados do edital a proibição de publicidade nas obras e a exigência de que os livros tivessem referências bibliográficas. Além disso, não era mais necessário promover a agenda de não violência contra a mulher e de valorizar a cultura quilombola e do campo. Em nota, o Ministério da Educação do novo governo abriu sindicância para apurar a mudança no edital e afirmou que as alterações eram de responsabilidade do governo Michel Temer. A explicação é negada pelo ex-chefe da pasta.
10. Reforma Agrária
Também durante a quarta-feira (9), o presidente substituto do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Francisco Nascimento, revogou os memorandos circulares do próprio órgão que haviam paralisado o programa de aquisição de terras para reforma agrária no país. Na semana anterior, o Incra havia confirmado à imprensa que as decisões levaram à paralisação dos processos, em um total de 250. De acordo com Nascimento, a iniciativa havia partido de duas diretorias sem a sua anuência.