Mesmo tendo ajudado a eleger Jair Bolsonaro (PSL) e com indicações para cargos estratégicos no futuro governo, oficiais de alto escalão das Forças Armadas têm divergências em relação aos rumos de algumas das políticas cogitadas pelo presidente eleito, especialmente em temas que envolvem relações internacionais e segurança.
Aquecimento global e sanções da ONU
Bolsonaro e alguns de seus apoiadores, como o futuro chanceler, Ernesto Araújo, desconfiam da tese de que o aquecimento global é provocado pela indústria. Tanto que abriram mão de sediar a conferência anual que negociaria a implementação do Acordo de Paris, exatamente sobre problemas do clima causados pelos humanos. Outros militares do governo não desdenham dos cientistas que afirmam que a Terra corre sério risco de inundações provocadas por superaquecimento das geleiras polares. Um desses é o general Hamilton Mourão. Ele disse que o aquecimento global "é uma realidade" e recomenda que não seja feita ruptura do acordo.
Capital israelense em Jerusalém
Bolsonaro cogita reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Seria uma das raras nações do planeta a fazer isso, já que a cidade é encarada hoje como território sagrado por três religiões (judaísmo, cristianismo e islamismo). O reconhecimento dessa cidade como capital judaica pode atrair o terror jihadista islâmico, ponderam ministros do núcleo militar de Bolsonaro. Além disso, há risco de represálias de países árabes que são grandes parceiros comerciais do Brasil.
Parceria com a China
Quando candidato, Bolsonaro fez um roteiro pela Ásia e, deliberadamente, evitou a China. Mas visitou Taiwan, considerada pelos chineses continentais uma "província-rebelde". Foi um recado claro. Depois de eleito, disse que "a China não quer comprar do Brasil, quer comprar o Brasil". O país asiático é nosso maior parceiro comercial. Preocupado, o vice-presidente eleito general Hamilton Mourão tem minimizado as preocupações de Bolsonaro e assegura que a China deve se tornar "parceira estratégica" do Brasil, desde que sejam respeitados contratos. Opinião semelhante têm outros militares.
Porte de armas
Duas correntes disputam, dentre os apoiadores de Bolsonaro, a ideia da flexibilização do uso de armas no Brasil. A mais moderada _ e que foi alardeada pelo presidente eleito na campanha à Presidência — é de que será facilitada a posse de armamento (em casa), não o porte (que permite andar com arma na rua). Parte da Bancada da Bala deseja facilitar também o porte de armas, algo que o próprio Bolsonaro incluiu em projetos de lei apresentados quando era deputado.