A proximidade da campanha eleitoral e o pessimismo quanto à liberdade imediata de seu principal líder levarão petistas a adotar estratégia ainda mais combativa frente ao Judiciário. Para a cúpula do PT, a confusão gerada com a guerra de decisões sobre a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva no último domingo expôs situações que poderão ser exploradas. O juiz Sergio Moro, tradicional alvo do partido, será ainda mais atacado e, à revelia da equipe de advogados que representa o ex-presidente, parlamentares irão a instâncias superiores da Justiça com novos pedidos de habeas corpus.
A próxima parada será no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Frente a recentes insucessos de Lula na Corte — foram pelo menos quatro desde março —, a expectativa não é de vitória, mas de mantê-lo no foco dos debates e reforçar a tese de perseguição política. Quanto a Moro, que estava em férias em Portugal quando se posicionou no pedido de soltura do ex-presidente, integrantes do PT sustentam que houve ilegalidade e pedem que o caso seja analisado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
— Moro cometeu erros primários. Mostrou desespero para manter Lula na cadeia — comenta um líder petista.
A avaliação é de que a atuação do juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba no impasse oferece munição a novas contestações a suas decisões nos processos da Operação Lava-Jato.
Outro ponto comemorado por militantes da sigla foi a repercussão do caso. A queda de braço entre desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) serviu para reafirmar junto a correligionários e simpatizantes que Lula segue como o escolhido do PT na disputa ao Planalto. A pouco mais de um mês do prazo final para o registro de candidaturas, há pressão de setores da legenda para o lançamento de outro nome, como o do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
— O nome do Lula saiu fortalecido e ficará mais difícil a cada dia obstruir a candidatura dele — opina o deputado federal Carlos Zarattini (SP).
O otimismo demonstrado publicamente não se repete nos bastidores. No domingo, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), reconheceu que é "muito difícil a situação judicial" do ex-presidente. Um dos cotados para substituir Lula na corrida presidencial, o ex-governador baiano Jaques Wagner refutou a possibilidade de o PT lançar outro nome que não o do ex-presidente. Em sua opinião, se o registro for negado definitivamente, o partido deveria apoiar algum candidato do mesmo campo político. Nessa visão, as alternativas seriam Ciro Gomes (PDT), Manuela D'Ávila (PC do B) ou Guilherme Boulos (PSOL).
Enquanto o foco político de líderes petistas aponta para iniciativas pulverizadas na Justiça em defesa de Lula, o impasse entre os procuradores oficiais do ex-presidente continua. De um lado, está o advogado Cristiano Zanin, que mantém postura crítica ao Judiciário. Nesta segunda-feira (9), após visitar Lula na carceragem da Polícia Federal, destacou que novas ações estão sendo estudadas como reforço a recursos já protocolados no STJ e no Supremo Tribunal Federal (STF). Também voltou a sustentar que o petista não está tendo "julgamento justo e imparcial".
Em outro flanco da defesa, o ex-presidente do STF Sepúlveda Pertence defende atuação mais discreta. Valendo-se de seu bom trânsito na Corte, reprova ataques ao Judiciário. O jurista não foi consultado sobre a ação protocolada por deputados petistas no TRF4, embora tenha minimizado o caso, afirmando que a defesa junto a tribunais superiores não ficará prejudicada.