Dois dias depois de aparecer em um vídeo divulgado nas redes sociais para marcar seu centésimo dia de prisão, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina, nesta quinta-feira (19), um artigo de opinião na Folha de S.Paulo. Enquanto a gravação havia sido feita antes de sua prisão, no dia 7 de abril, o texto indica que foi escrito de dentro da cela na sede da Polícia Federal em Curitiba.
"Estou preso há mais de cem dias. Lá fora o desemprego aumenta, mais pais e mães não têm como sustentar suas famílias, e uma política absurda de preço dos combustíveis causou uma greve de caminhoneiros que desabasteceu as cidades brasileiras", começa escrevendo o petista, acrescentando uma série de críticas ao governo Michel Temer, o qual chama de "ilegítimo".
Lula ainda comenta a decisão judicial que vetou entrevistas suas a veículos de comunicação na prisão e também que ele grave vídeos como pré-candidato a presidente pelo PT: "Parece que não bastou me prender. Querem me calar".
Em seguida, segue questionando os motivos que o proíbem de falar com a imprensa e diz: "Fizeram tudo isso porque têm medo de eu dar entrevistas?".
A decisão de negar direitos especiais a Lula saiu dois dias depois de o desembargador de plantão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), Rogério Favreto conceder liberdade ao ex-presidente no último dia 8. A ação foi revertida no mesmo dia pelo relator da Lava-Jato, desembargador João Pedro Gebran Neto, e pelo presidente da Corte, Carlos Eduardo Thompson Flores.
O ex-presidente foi condenado a 12 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá. O partido e a defesa de Lula sustentam que ele é inocente e vítima de uma perseguição político-judicial.
Às vésperas da convenção partidária, que começam nesta sexta-feira (20) e a menos de um mês do prazo final para o registro das candidaturas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — o prazo é 15 de agosto —, o ex-presidente volta a confirmar no artigo que segue com planos de concorrer nas eleições de outubro: "Eu sou candidato porque não cometi nenhum crime".
Na semana passada, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad esteve com o ex-presidente pela primeira vez como advogado com procuração para atuar no processo da execução penal. Coordenador do programa de governo do PT e apontado como possível "plano B" do partido, Haddad havia estado com Lula em sua cela duas vezes como amigo, e, agora, pode agora ver o ex-presidente em qualquer dia da semana.
A intenção do grupo diretamente ligado a Lula é arrastar até o momento final a definição da candidatura e tentar reverter a situação em benefício eleitoral para o nome que for escolhido como candidato do partido, já que Lula está potencialmente impedido de concorrer com base na Lei da Ficha Limpa.
Nesta quarta-feira (18), o ministro Humberto Martins, vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no exercício da presidência, indeferiu liminarmente mais um habeas corpus impetrado por uma pessoa que pedia a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), preso em Curitiba.
Condenado no âmbito da Operação Lava-Jato, Lula completou na última segunda-feira (16) cem dias preso na sede da Polícia Federal em Curitiba.