
Ao assinar ficha no PSD na tarde da sexta-feira (9), o governador Eduardo Leite consolida seu futuro político e deflagra um movimento para reforçar o palanque do vice Gabriel Souza (MDB) ao Palácio Piratini em 2026. Disposto a concorrer à Presidência no ano que vem, Leite busca agora um púlpito para ampliar sua presença no debate nacional, ao mesmo tempo em que tenta manter a hegemonia de sua base partidária no Rio Grande do Sul.
O objetivo é isolar as forças de direita e esquerda no Estado, reproduzindo na campanha eleitoral a coalizão que sustenta o governo na Assembleia Legislativa. Para tanto, uma operação em curso visa manter unidos MDB, PSD, PP, PDT e o que surgir da fusão entre PSDB e Podemos, além do Republicanos.
Para tanto, o grupo de Leite aguarda a filiação ao Republicanos dos três deputados estaduais do União Brasil, Aloísio Classmann, Dirceu Franciscon e Thiago Duarte. A manobra vem sendo conduzida pelo secretário de Habitação e presidente do Republicanos no RS, Carlos Gomes.
Os parlamentares estão descontentes com a federação formada entre União Brasil e PP, sobretudo pela ameaça de não conseguirem renovar o mandato sob a nova aliança. Em paralelo, Leite e Gabriel trabalham para segurar o PP na coalizão, tarefa na qual contam com dois dos mais influentes membros do partido, Vilson e Silvana Covatti.
Nos cálculos da cúpula do Piratini, ao atrair PP e Republicanos, a chapa a ser encabeçada por Gabriel tira dois potenciais sustentáculos da candidatura de Luciano Zucco (PL) a governador. Em outro front, a recente ampliação do espaço do PDT no governo, com a nomeação de Eduardo Loureiro para a Secretaria da Cultura, inibe os trabalhistas de flertar com o PT ou mesmo reivindicar uma candidatura própria em 2026.
Leite vem concebendo esses movimentos com discrição, enquanto também projeta o próprio futuro. Embora há cerca de um mês já tivesse firmado convicção de deixar o PSDB rumo ao PSD, ele vinha coordenando as ações para manter a coesão interna.
No dia 1º de maio, ele se reuniu com os parlamentares do PSDB por quatro horas no Palácio Piratini. Participaram do encontro, além de Leite, o chefe da Casa Civil, Artur Lemos, os cinco deputados estaduais (Kaká D’Ávila, Nadine Anflor, Neri Carteiro, Pedro Pereira e Valdir Bonatto) e o deputado federal Lucas Redecker — Daniel Trzeciak não pôde comparecer.
O que era para ser um rápido encontro ao final da manhã se estendeu até as 14h30min, com quatro térmicas de chimarrão esvaziadas pelo grupo. Leite começou dizendo que não se sentia mais confortável no PSDB diante do controle exercido por Aécio Neves e do esvaziamento do comando do presidente Marconi Perillo. Em contrapartida, destacou as condições oferecidas por Gilberto Kassab no PSD, em especial o acolhimento ao seu grupo político.
O governador reafirmou mais uma vez sua vontade de concorrer à Presidência e disse que vislumbra caminhos para tanto na nova sigla, mesmo tendo de disputar a primazia com o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD). Leite, porém, admitiu que o Senado é uma alternativa viável, certificada por pesquisas eleitorais, e destacou a tração que uma eventual candidatura proporciona aos aliados no Estado. Em seguida, disse como espera manter a atual aliança política na próxima eleição e que desejava ver todos os parlamentares presentes unidos em 2026.
O diálogo mudou rumos que estavam praticamente estabelecidos. Nadine e Redecker, por exemplo, estavam prontos para trocar o PSDB pelo Republicanos e agora estão dispostos a seguir com Leite para o PSD, mesmo destino de três dos outros quatros deputados estaduais. Apenas Kaká D’Ávila não se manifestou, evitando revelar seu futuro político.
— Não há datas nem prazos, já que dependemos da abertura das janelas de migração partidária. Mas ali se firmou o desejo de migrarmos em bloco com o governador para o PSD — diz Nadine, lembrando que a formalização da fusão PSDB/Podemos abre uma nova janela nos dois partidos.
Na noite de quarta-feira (7), Leite manteve encontro semelhante com prefeitos e vereadores do PSDB, desta vez com a presença de Trzeciak. Por videoconferência, explicou os motivos de sua saída e convidou os correligionários a o acompanharem. Boa parte dos prefeitos foi receptiva à migração, mas condicionou o movimento à aceitação de suas bases locais.
Em Porto Alegre, os vereadores Gilson Padeiro e Marcelo Bernardi, respectivamente ligados a Nadine e a Redecker, sinalizaram ir para o PSD. Já Moisés Barboza, presidente municipal do PSDB, fica no partido disposto a concorrer a deputado estadual.
No diretório estadual, Paula Mascarenhas também permanece à frente da legenda. Aliada fiel de Leite, a atual secretária estadual de Relações Institucionais fica no PSDB não só para não deixar o partido acéfalo, mas para evitar qualquer desvio de rota na eleição, mantendo a aliança com o MDB.
— Como presidente, tenho compromisso institucional e moral com o PSDB. Minha permanência não significa afastamento do governador. Pelo contrário. O centro democrático que ele representa precisa do PSDB — afirma Paula.
No PSD, a chegada de Leite é vista como fator para crescimento do partido no RS, cuja bancada é de apenas um deputado estadual e um federal. Em publicação na sexta, após o ato de filiação, Kassab elogiou o governador gaúcho e afirmou que ele "chega ao partido como presidente do PSD no RS". Também presente na assinatura da ficha, em São Paulo, a atual presidente estadual, Letícia Vargas, já se prepara para repassar o comando da legenda.
— Nos próximos dias vamos começar a transição para que ele assuma a condução do partido — afirma.
Nem todos no PSD estão contentes com a transferência de poder interno.
Nos bastidores, assessores, dirigentes e candidatos temem perda de espaço e dificuldade com a própria eleição ante a chegada do grupo tucano. Enquanto a atual direção organiza uma vinda de Kassab ao RS no final do mês para formalizar a entrada de Leite, dissidentes ironizam que o presidente nacional “vem empossar o novo papa”.
O tamanho dos partidos no RS
PSDB
- Dois deputados federais
- Cinco deputados estaduais
- 35 prefeitos
- 27 vice-prefeitos
- 308 vereadores
- 95.713 filiados
PSD
- Um deputado estadual
- Um deputado federal
- 12 prefeitos
- 12 vice-prefeitos
- 110 vereadores
- 21.735 filiados