O objetivo de criar "um espaço de inovação no sistema político brasileiro", incluído no manifesto de lançamento da Rede Sustentabilidade, não foi suficiente para atrair grandes lideranças ao partido. Pesaram contra o crescimento a personalização da sigla na figura de Marina Silva, a falta de posicionamentos claros frente a temas polêmicos e a discreta interlocução política da pré-candidata à presidência em Brasília.
Informalmente, a Rede foi anunciada em 2013, mas a Justiça Eleitoral entendeu que não havia requisitos mínimos para o registro. Diante disso, Marina teve de adiar seu plano. Se filiou ao PSB, de Eduardo Campos, para concorrer em 2014 no posto de vice e assumiu a cabeça de chapa do partido após a morte do ex-governador de Pernambuco em um acidente aéreo. Ela ficou na terceira colocação, com 22,1 milhões de votos, atrás de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB).
A criação oficial da legenda ocorreu em setembro de 2015. Na arrancada, os 182 artigos de seu estatuto chamaram a atenção por introduzirem elementos até então novos na política: limitação a apenas uma reeleição a parlamentares, regras estreitas para doações de campanha, vedação a envolvidos em casos de corrupção e a criação de um conselho político aberto à sociedade.
– Temos só dois anos e nossa prioridade não foi atrair parlamentares, mas construir a Rede. Somos um ponto fora da curva tradicional – justifica Pedro Ivo, porta-voz nacional do partido, diante da baixa procura de filiados de outras siglas.
Outra inovação da Rede foi a reserva de 30% das vagas na eleição a "candidaturas cidadãs" _ filiados que não exercem militância no partido, mas que representam movimentos parceiros. Para o pleito deste ano, a Rede abriu espaço para nomes de grupos como Agora!, Acredito, Brasil 21 e Frente Favela Brasil.
Cientista político da Fundação Getulio Vargas (FGV), Sérgio Praça acredita que essa possibilidade funciona a curto prazo, mas não garante o crescimento duradouro do partido.
– Estou vendo estupefato esses acordos. Todo partido precisa de fidelidade. Política não se faz sem partido – pontua.
Estou vendo estupefato esses acordos. Todo partido precisa de fidelidade. Política não se faz sem partido.
SÉRGIO PRAÇA
Cientista político da FGV
Como não participou das eleições de 2014, a Rede precisou atrair parlamentares para formar bancadas no Congresso. A legenda tem um senador, Randolfe Rodrigues (AP), e chegou a contar com cinco deputados federais. No entanto, perdeu três parlamentares: Eliziane Gama (PPS-MA), Alessandro Molon (PSB-RJ) e Aliel Machado (PSB-PR). Restaram João Derly (RS) e Miro Teixeira (RJ).
No Rio Grande do Sul, a Rede contava apenas com Regina Becker na Assembleia Legislativa. A parlamentar migrou para o PTB após desentendimentos com antigos correligionários.
Com as deserções, o partido não atinge o mínimo de cinco congressistas previstos pela Lei Eleitoral para obrigar emissoras a convidar sua candidata para debates em rádio e televisão. Sem alianças, terá apenas 12 segundos no horário eleitoral.
– Marina é uma pessoa honesta, mas ela é maior que a própria Rede. Isso é um erro _ comenta o deputado Aliel Machado, embora afirme que não se arrepende de ter integrado o partido.
Conflitos internos ocorrem desde o surgimento da sigla. Um ano após a fundação, um grupo de intelectuais lançou manifesto anunciando saída conjunta da legenda. Entre os motivos alegados estava a falta de posicionamento sobre ações do governo de Michel Temer, como as reformas da Previdência e trabalhista.
Posteriormente, a Rede foi cobrada pela demora em consolidar uma posição sobre o impeachment de Dilma. Os deputados Molon e Machado, além do senador Randolfe, foram contra o processo. Marina só anunciou ser favorável ao afastamento uma semana antes da votação.
Para o líder do partido na Câmara, João Derly, as debandadas ocorreram porque pessoas simpáticas à criação da Rede não se alinharam às diretrizes partidárias.
– Muitos defendiam que a Rede tinha de ser um novo PT, e não era a intenção – diz.
"Não se relaciona bem com Brasília"
Apesar da projeção de dificuldades durante a campanha deste ano, já que a Rede contará com parcos repasses dos fundos partidário e eleitoral, Marina Silva (Rede) surfa no capital político obtido nos últimos pleitos ao Planalto. Na mais recente pesquisa do Instituto Datafolha, a ex-senadora lidera as intenções de voto, empatada tecnicamente com o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), em cenários sem o ex-presidente Lula.
Ainda assim, analistas não se empolgam com o nome de Marina nas urnas. Para o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer, o resultado é reflexo da lembrança do eleitorado mais antigo, e não da captação de eleitores novos. Para ele, a ex-senadora pecou em não protagonizar as principais discussões da atualidade.
– Para liderar, tem de falar, criticar, se posicionar. Não se ouviu nada dela nos últimos dois anos. Ela também não se relaciona bem com Brasília – destaca.
Fleischer afirma que o futuro crescimento da Rede passa por um comportamento mais expressivo da ex-senadora, que possa gerar repercussão em meios de comunicação. Neste momento, o analista entende que Marina deveria compor a chapa de Joaquim Barbosa (PSB), ocupando o posto de vice. A hipótese é rechaçada por apoiadores da candidata.
– A candidatura de Marina é irreversível e a de Barbosa nem está posta. Acho, sim, que ele seria um bom vice para ela – provoca Pedro Ivo, porta-voz da Rede.
Os números da sigla
Senador – 1
Randolfe Rodrigues (AP)
Deputados federais – 2
João Derly (RS) e Miro Teixeira (RJ)
Deputados estaduais – 2
Chico Leite (DF), Luiz Castro (AM), Georgeo Passos (SE) e Moritos Matos (SE)
Prefeitos – 5
Macapá (AP), Seabra (BA), Brejões (BA), Livramento de Nossa Senhora (BA) e Serra (ES)