Oficiais do Exército se reuniram na noite desta quarta-feira (4), em Porto Alegre, em evento alusivo ao regime militar no Brasil, que teve início em 31 de março de 1964. O jantar, que reuniu cerca de 180 pessoas, ocorreu em um restaurante no bairro Petrópolis. Familiares dos militares, a maioria coronéis da reserva, também participaram da reunião.
O evento começou às 20h. Segundo os participantes, o jantar, que ocorre anualmente, tem o objetivo de lembrar o que eles chamam de "Revolução de 31 de março de 1964" e não tem viés de militância partidária:
— É (um ato) para reverenciarmos o período e os nossos chefes, que dirigiram o Brasil em um período que foi muito conturbado. E eles mantiveram a estabilidade do Brasil e deram muito progresso — disse o coronel da reserva Sergio Sparta, 73 anos.
Segundo os participantes, o julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, realizado no Supremo Tribunal Federal (STF), paralelamente ao evento, não estava entre os assuntos que pautavam o encontro e era citado apenas "informalmente" nas rodas de conversa.
Por volta das 21h, enquanto o ministro do STF Dias Toffoli proferia seu voto favorável ao petista, a única televisão ligada no recinto não transmitia a sessão da Corte, mas sim os últimos minutos da vitória do Grêmio contra o Monagas, da Venezuela, pela Libertadores da América.
Os militares evitaram falar sobre um eventual clima de intervenção militar no país com os últimos desdobramentos políticos e os recentes comentários de chefes das Forças Armadas, reforçando que o evento visava lembrar o "ato cívico-militar de 31 de março de 1964".
Perguntado sobre os desdobramentos do período e os fatos apontados na Comissão Nacional da Verdade (CNV), que apurou violações aos direitos humanos durante o regime, o coronel da reserva Gilberto Almeida, 64 anos, disse que os fatos não refletem a realidade:
— Revanchismo. [...] A história está sendo contada de maneira inverídica — pontuou o coronel, que integrava a cavalaria nos tempos de ativa.
Em 2014, a CNV entregou à então presidente Dilma Rousseff o relatório final do trabalho. O grupo ouviu mais de 1,1 mil depoimentos, analisou arquivos e visitou centros de torturas para produzir o texto apontando 434 mortos e desaparecidos no período. Segundo o documento, 377 repressores violaram os direitos humanos, entre militares, policiais e outros agentes de segurança.
O coronel da reserva Luiz Caminha, 68 anos, disse que a lembrança que ele tem sobre o regime militar no Brasil é extremamente positiva:
— Foi o único período em que trabalharam a infraestrutura do país, que nós estamos aproveitando hoje.
Em meio aos garçons, que passavam com cortes nobres e cervejas uruguaias entre as cerca de oito mesas, no segundo andar do restaurante, os participantes do ato se abraçavam, davam gargalhadas e relembravam assuntos do passado. Em certo momento, uma das convidadas chegou ao local envolta em uma bandeira do Brasil.