Após declarações polêmicas na mídia e medidas controversas à frente da Polícia Federal (PF), Fernando Segovia foi demitido da direção-geral da corporação, nesta terça-feira (27), pelo recém-empossado ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann. Em apenas três meses de gestão, Segovia teve de prestar esclarecimentos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e virou alvo de ações da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Relembre as principais controvérsias relacionadas ao ex-diretor-geral da PF:
Mala de dinheiro
Logo após assumir como diretor-geral da PF, em novembro do ano passado, Segovia afirmou que a PGR era a melhor indicada para explicar possíveis erros no acordo de colaboração firmado com executivos do grupo J&F, controlador da JBS — entre eles, o empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo.
Na ação, Rodrigo Rocha Loures, então assessor de Temer, foi flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil de um executivo da JBS. O ato fazia parte de uma operação controlada da PF e do Ministério Público Federal (MPF). O repasse do dinheiro foi um dos principais indícios que levaram a PGR a oferecer denúncias contra o presidente no âmbito da Lava-Jato.
Na ocasião, Segovia disse que uma mala não é prova suficiente para denúncia contra Temer.
— Uma única mala talvez não desse toda a materialidade criminosa que a gente necessitaria para resolver se havia ou não crime, quem seriam os partícipes e se haveria ou não corrupção — declarou.
À época, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que a afirmação de Segovia só podia ser "brincadeira".
Encontro suspeito
Em 15 de janeiro, Segovia e Temer tiveram um encontro fora da agenda. A reunião não estava prevista, mas foi acrescentada posteriormente no documento oficial digital. Na ocasião, o então diretor-geral da PF admitiu que houve "um pequeno erro" de seus assessores ao não registrar de forma oficial e antecipada o evento com o presidente da República.
Nomeação polêmica
Em fevereiro, Segovia indiciou o delegado Felício Laterça para o cargo de superintendente regional do Rio de Janeiro. A nomeação gerou polêmica, pois Laterça é alvo de uma investigação do MPF sobre sua suposta ligação com políticos do Rio. O caso estaria relacionado ao aluguel, pela prefeitura, do imóvel onde fica a delegacia de Macaé, no interior fluminense.
Após o mal-estar gerado, o então diretor-geral da PF retirou a indicação do delegado para o cargo. O próprio Laterça teria desistido de assumir o posto de chefia no Estado.
Número de inquéritos
No início de fevereiro, Segovia criou uma normativa que previa a obrigatoriedade dos superintendentes regionais em registrar o número do inquérito ao solicitar reforço para deflagração de operações.
Para justificar a medida, o comando da PF informou que a ação era necessária para organizar o efetivo para mobilizar equipes em outros estados. A mudança causou descontentamento entre delegados. Para eles, a regra poderia facilitar vazamentos de informações e possibilitava um controle por parte da direção da instituição sobre investigações em andamento.
Após a polêmica, Segovia recuou e reformulou a regra, tirando a obrigação de apresentar o número do inquérito no pedido. Esse foi um dos últimos atos de Segovia como diretor-geral da PF.
Entrevista polêmica
Em entrevista à agência Reuters, em 9 de fevereiro, o então diretor-geral da PF afirmou que a tendência era de que o órgão recomendasse o arquivamento da investigação contra o presidente Michel Temer no chamado inquérito dos portos.
Conforme Segovia, até aquele momento, as investigações não comprovaram que houve pagamento de propina por parte de representantes da empresa Rodrimar, que opera áreas do porto de Santos (SP), para a edição do decreto que prorrogava contratos de concessão e arrendamento portuários. O documento foi assinado por Temer em maio do ano passado.
Segovia disse que não há quaisquer indícios de que o decreto editado pelo presidente beneficiou a Rodrimar. Ele destacou que a empresa não era atingida pelo decreto, que mudou regras de concessão posteriores a 1993, o que não seria o caso dela.
Após a fala polêmica, o STF pediu explicações a Segovia, e a PGR pediu que o então diretor fosse afastado do cargo caso fizesse declarações sobre inquéritos em cursos.