A possível candidatura do presidente Michel Temer a um segundo mandato enfrenta resistências não apenas em partidos da base aliada do governo, mas no próprio PMDB. Defendida nos bastidores por ministros que ocupam gabinetes no Palácio do Planalto, a estratégia para lançar Temer ganhou os holofotes depois que o governo anunciou a intervenção na segurança pública do Rio.
Em reunião da Executiva Nacional do PMDB, nesta quarta-feira (21), o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, fez uma defesa enfática da candidatura de Temer. A portas fechadas, Marun declarou que o presidente tem "todas as chances" de ganhar. Ele disse ter conversado sobre o assunto com Temer, na segunda-feira.
—Eu disse que precisamos nos preparar para isso. A posição dele, hoje, é a de não disputar. Agora, quando os adversários se preocupam com isso, significa que estamos no caminho certo — afirmou o ministro.
Reconduzido à presidência do PMDB por mais um ano, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), ouviu a defesa feita por Marun, mas não seguiu no mesmo tom. Disse que o partido trabalha para ter candidato próprio à Presidência, mas citou outros nomes além de Temer, incluindo o do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Sem espaço no PSD, Meirelles negocia filiação ao PMDB.
—Nós estamos discutindo qual é o nome mais viável, mais factível, que possa ganhar as eleições— afirmou Jucá.
Em conversas reservadas, porém, dirigentes do PMDB sustentam que Temer somente será candidato se, em abril, chegar a dois dígitos de aprovação. Dono de altos índices de impopularidade, o presidente aposta em uma agenda mais social para melhorar sua imagem.
Porta-voz
Preocupado com interpretações de que a decisão de pôr as Forças Armadas nas ruas do Rio foi "eleitoreira", Temer escalou o porta-voz Alexandre Parola para rebater rumores sobre eventual candidatura. Antes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) havia dito que Temer usou a intervenção para se cacifar na disputa. Na mensagem, Parola afirmou que o governo não está atrás de "aplauso fácil".
Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a possível campanha de Temer é "problema" do PMDB e do Planalto.
— Isso é problema de lá. Eu não reclamei que eles estão querendo cuidar dos projetos de cá? Deixa eles cuidarem de lá e a gente cuida de cá — disse Maia, que é pré-candidato à sucessão presidencial.
No diagnóstico do DEM, um cenário assim forçaria Maia e o governador Geraldo Alckmin, postulante do PSDB, a se unir em torno de uma candidatura única de centro, na tentativa de impedir um segundo turno entre o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e um nome da esquerda.
Integrante da ala oposicionista do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) disse que a entrada de Temer na disputa seria "inconveniente" para o PMDB.
— Eu vejo o senador Renan Calheiros com Lula. Vejo o presidente do Senado (Eunício Oliveira) com Lula e o (senador) Jader Barbalho também. Como é que eles vão juntar esses cacos? — questionou o tucano.
Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) avaliou que, se Temer concorrer, inviabilizará não só Meirelles - que já perdeu a bandeira da reforma da Previdência -, mas também Maia.
— Michel é candidatíssimo — disse Mansur.
Para Meirelles, porém, é "prematuro" afirmar o que a base aliada fará na corrida presidencial.
— Vamos ver como tudo isso se desenvolve. Peru não morre de véspera — disse o ministro.