O linguista e filósofo americano Noam Chomsky, de 89 anos, afirma que os políticos usam as mídias sociais "para o bem" e "para o mal". Com análises políticas destacadas, ele diz que as técnicas das redes sociais para influenciar consumidores e eleitores vão se desenvolver ainda mais, "a menos que o ativismo popular possa restringi-las".
Chomsky faz um balanço dos anos em que o PT governou o Brasil. Para ele, o País avançou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, afirma o filósofo, o petista errou, por exemplo, ao não diversificar a economia e ao se envolver em "extrema corrupção". Chomsky falou ao jornal O Estado de S. Paulo por e-mail.
Qual sua opinião sobre o uso das redes sociais por políticos?
As figuras políticas usam, sim, as mídias sociais, até certo ponto, para o bem ou o para o mal. Mas Donald Trump é único. Seu principal método de comunicação com o mundo é por meio dos tuítes, que vão desde berros raivosos até pronunciamentos relativos a políticas públicas. A técnica foi bem concebida para vários fins. Primeiro, se desviar de qualquer questionamento ou debate sério. Segundo, controlar sua base eleitoral, que o venera. E, por último, manter a atenção da mídia focada nele e em suas extravagâncias diárias.
O discurso de ódio ganha mais força na internet? Por quê?
Uma grande virtude da internet é que ela oferece oportunidades para a livre expressão e para o debate. Essa liberdade permite o discurso de ódio.
Houve um crescimento na polarização do debate político tanto nos Estados Unidos como no Brasil. O senhor vê semelhanças nesse cenário em ambos os países? Como isso afetará as eleições?
Devemos lembrar que esse fenômeno, embora real e perigoso, não é novo. Eu sou velho o suficiente para lembrar vividamente o surgimento do fascismo na Europa na década de 1930. A polarização e a irracionalidade excediam em muito tudo o que vemos hoje e, é claro, eram muito mais perigosas. Felizmente, as circunstâncias atuais permitem uma ampla gama de medidas para enfrentar e superar essas tendências ameaçadoras.
Qual a intenção por trás da produção das fake news? Por que elas são tão populares?
A intenção é bastante clara: enganar, induzir ao erro e controlar. As fake news são populares entre as pessoas que, muitas vezes por bons motivos, percebem o poder estabelecido como hostil e se sentem vitimadas pelas políticas prevalecentes. Consequentemente, elas desconfiam do que vem das fontes da elite e procuram por algo que possam interpretar como favorável aos seus interesses e suas atitudes. Novamente, o fenômeno Trump é bastante notável. As pesquisas mostram que os republicanos tendem a confiar muito mais em Trump do que na mídia tradicional.
Qual papel o senhor vê para as grandes corporações da internet nas próximas eleições?
Elas já tiveram um impacto. As técnicas que agora são usadas para influenciar as escolhas do consumidor e as preferências dos eleitores provavelmente vão se desenvolver ainda mais, a menos que o ativismo popular possa restringi-las, uma tarefa grande e significativa.
A internet dificulta ou facilita manipulações?
Existem tendências conflitantes. Quando as principais fontes de notícias eram os grandes canais de TV e jornais matinais, a população era exposta a um espectro de informações, atitudes e percepções largamente compartilhado. Um efeito do acesso à internet é levar muitas pessoas a "câmaras de eco", onde elas são expostas principalmente a materiais que reforçam seus próprios pontos de vista. Por outro lado, a internet oferece muitas possibilidades para acessar fontes de informação muito mais amplas, para aqueles que desejam aprender algo.
Recentemente, o senhor criticou o modus operandi dos governos de esquerda no Brasil e na América Latina. É hora de abrir espaço para outras ideologias?
Esses governos alcançaram conquistas importantes, tanto em nível nacional como internacional. Isso foi particularmente verdadeiro no caso do Brasil, que durante o governo Lula se tornou um dos países mais respeitados do mundo, por bons motivos. Também houve falhas graves, entre elas a falta de diversificação da economia e a extrema corrupção, que persistiu de anos anteriores. Não há razão para que tais falhas não possam ser superadas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.