De acordo com reportagem publicada neste sábado (23) no jornal O Globo, o ex-executivo da Odebrecht Henrique Valladares afirmou ter comprovantes de transações financeiras que ligam o senador Aécio Neves ao recebimento ilegal de R$ 50 milhões. Os valores teriam sido repassados pelas empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez para que o tucano defendesse os interesses das empresas no processo de construção da usina hidrelétrica de Santo Antônio, em Porto Velho (RO).
Após as declarações feitas por Valladares em inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF), a Andrade Gutierrez passou a ser obrigada a esclarecer seu possível envolvimento no episódio. De acordo com os executivos da Odebrecht, do total recebido por Aécio, R$ 30 milhões teriam sido repassados pela Odebrecht e R$ 20 milhões pela Andrade Gutierrez.
Durante seu depoimento, o ex-executivo da Odebrecht também afirmou ter sido orientado por um emissário de Aécio, Dimas Toledo, a depositar parte dos valores em uma conta bancária de Cingapura. De acordo com o depoimento, Valladares afirma ter comprovantes bancários que comprovam as transações e sustenta que o número da conta veio anotado em um bilhete, ao lado do nome do empresário Alexandre Accioly — padrinho de um dos filhos de Aécio e integrante do grupo mais restrito de amigos do tucano.
Segundo Valladares, o pagamento a Aécio foi acertado em reunião com a presença de Marcelo Odebrecht, em Belo Horizonte, na sede do governo mineiro, no início de 2008. Em depoimento, Marcelo também citou o pagamento ao tucano e disse ter estimulado Valladares, que cuidava da área de energia do grupo, a levar os pagamentos adiante.
Nos últimos meses, ex-integrantes da Andrade Gutierrez levaram à Lava-Jato informações que miram novamente Accioly: em depoimento à PF, o ex-executivo e delator da empreiteira, Flávio Barra, confirmou o repasse de R$ 20 milhões a Aécio por meio de um contrato com a Aalu Participações e Investimentos, empresa controladora da rede de academias Bodytech que pertence ao empresário carioca, a uma sobrinha dele e a um ex-banqueiro.
De acordo com as informações do jornal O Globo, Accioly confirmou o repasse, mas negou se tratar de propina, e sim investimento da Andrade Gutierrez na rede de academias Bodytech. Andrade Gutierrez, por sua vez, negou a alegação de Accioly e informou em nota que “não é e nunca foi sócia na rede de academias”.
Contraponto
Após a divulgação das informações sobre o possível repasse de propinas, a assessoria de imprensa do senador Aécio Neves (PSDB-MG) negou que ele tenha recebido valores da Odebrecht e da Andrade Gutierrez. Segundo a defesa do senador, todos os recursos arrecadados pelo tucano "estão devidamente declarados perante os órgãos competentes, tratando-se de doações oficiais de campanha".
Em nota, o empresário Alexandre Accioly disse não ter qualquer vínculo com a offshore Embersy ou conta em Cingapura. "Reafirmo que nunca recebi depósito em favor de terceiros, em conta no Brasil, em Cingapura ou outra localidade", escreveu.